"Aboio de Fantasmas", da escritora capixaba Andréia Delmaschio.
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Livro de memórias, Aboio de fantasmas é e não é ficção. Isso pouco importa – de verdade. Vale, para quem lê, como as palavras aparecem e o que elas dizem.Aboio, sabemos, é aquele canto, plangente, com que vaqueiros conduzem a boiada. Fantasmas não existem. De modo que o título nos induz a pensar que o livro é um canto, algo monótono e melancólico, sobre coisas, fatos e seres que não existiram, porque fantasma é aquela “impressão de estar vendo alguém e em segui-da descobrir que não havia ninguém ali” (“O medo do medo”). Virando letra, passou a haver. Andréia Delmaschio entende, como poucos, das margens mínimas entre realidade e ficção, autor e narrador, narrador e personagem, vida e obra, gentes e fantasmas. Mínimas, mas persistentes. Quem há de arriscar quando uma, quando outra margem? O grande lance para o leitor pode ser deixar-se embalar pelo aboio, tornar-se ele também um fantasma, esse que está e não está.
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Andréia Delmaschio nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 20 de abril de 1969. É escritora, professora e pesquisadora. A máquina de escrever (de) Chico Buarque foi sua tese de doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro de contos Mortos vivos (2008), em que apresenta seus primeiros escritos (ficcionais) sobre Chico Buarque. Publicou ensaios sobre as obras de Hoffmann, Rosa, Nasar, Noll e Manuel de Barros, entre outros. Em 2004 lançou Entre o palco e o porão: uma leitura de Um copo de Cólera, de Raduan Nassar (Annablume).
Ficção