Adeus à Disponibilidade

Adeus à Disponibilidade Alceu Amoroso Lima


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Adeus à Disponibilidade


e outros adeuses.




É livro ao mesmo tempo autobiográfico e de memorialismo literário, sentindo-se nele ainda um forte sôpro de poesia a tornar mais bela e atraente a sua prosa autobiográfica. E por ser livro de tais gêneros da historiografia literária, está também entre aqueles que maior interêsse apresentam aos estudiosos da vida e da obra de Alceu Amoroso Lima, obra que, êste ano, se não ultrapassar, andará por perto dos setenta títulos publicados.

No presente volume, reuniu Tristão de Ataíde mais de quatro dezenas de "adeuses" diferentes, todos eles, na verdade, bastante significativos para uma vida que é, na expressão do próprio escritor, tôda ela, "uma sucessão de adeuses". "Adeus à disponibilidade" (1969), que tanta celeuma levantou, marcaria "o início de uma vida nova" para o então jovem diretor da revista A Ordem e do Centro Dom Vital. Era o primeiro, mas definitivo "adeus à sua primeira mocidade", àquela sua antiga e tão despreocupada jeunesse dorée, da sua belle epoque brasileira tão saturada de ceticismo à Anatole France e do ecletismo literário de Eça de Queirós, mas já a se inquietar também com os anjos e os demônios de Chateubriand e de Nietzsche.

Segue-se logo a êste, outro "adeus", aquêle que assinalaria de fato a sua primeira "tentativa de itinerário", publicado também em 1929. A primeira despedida era, antes, de desengajamento do esteticismo e do desapêgo ao primado da literatura e o segundo "adeus a si mesmo", vinha delinear os primitivos encaminhamentos do seu engajamento cristão definitivo.

Essa é ainda a tônica do seu segundo "Adeus à Mocidade" (1943), a despedida da idade que Aristóteles dizia acabar aos 50 anos, mas que êle nos ensina que "jamais termina, quando se sabe fazer da vida, não uma despedida contínua de valores superados, mas uma descoberta incessante de novos valôres". Também assim são o seu "Adeus aos Sessenta" (1953), e "No Limiar dos Setenta" (1967), outros tantos grandes nassos na sua redescoberta da "Igreja do Convívio", pelas mãos daquele Padre Franca de quem recebera a "Presença de que, por vinte anos, se privaria, desde a 1ª ou 2ª comunhão, nos remotos anos de 1907 ou 1908".

Segue-se, na segunda parte do livro, de "Adeuses aos homens e às coisas", uma das mais belas e famosas páginas literárias, o seu tão lembrado "Adeus à Casa Azul", publicado na imprensa carioca em 1940, mas, até agora, inédito em livro. Nunca ele ousara falar antes daquela velha Casa Azul em que nascera e havia passado tôda a sua meninice. Nem mesmo quando assistia à lenta agonia da sua demolição, vendo ruírem, a golpes de picareta, as suas tão caras paredes, tijolo por tijolo. Foi preciso que uma jornalista atirasse o ramo de violetas de sua tão delicada crônica sôbre as ruínas do seu "velho casarão das abas largas", para que, então, a título de lhe agradecer em nome de sua infância, publicasse sôbre a sua Casa Azul "a mais bela página literária jamais escrita por alguém, entre nós, sôbre a casa que o vira nascer", como houve quem lhe escrevesse.

O seu "Adeus à Praça Quinze", a grande Praça d'Armas do Renascimento católico brasileiro, é outra bela página inesquecível (1952), aqui recolhida. Seguem os seus "adeuses aos homens": a seu primeiro mestre, João Köpke (1926); a Dom Leme (1942); a Wagner Dutra (1943), o seu grande secretário; a seu velho jardineiro da Rua Dona Mariana (1958); a Augusto Frederico Schmidt (1960); ao Padre Leonel França (1960). Vindo, após, os seus "adeuses às coisas": o rio Carioca de sua infância; os seus jardins floridos de menino das Águas Férreas; as suas águas do Templo (1961); os seus petropolitanos sinos do Piabanha: "de todos os instrumentos musicais, os que mais lhe falam, os sinos! Até à final e tão bela "Elegia de Saint Germain de Prés" (1968). E fechando o volume, os "adeuses a seus e outros alunos", os seus principais discursos paraninfando turmas sucessivas de alunos desde 1934-1965.

São adeuses poéticos todos êles; alguns, mais nostálgicos, porque mais carregados, talvez da poeira dos dias e das ruas. Mas, todos por igual, de tão engajadamente vividos, sempre bem escritos. Há adeuses quase elegias, entre uma e outra sepultura de ente caro; há outros, a engolir lágrimas, não raro, amargas. Mas, sempre "a entrelaçar os seus goivos de saudade, os ramos cristãos da Esperança". E assim caminha o autor dêste livro, "de adeus em adeus", vida afora, quase ao limiar dos 80, cada vez mais engajado em sua "Teologia do Convívio", "à espera da derradeira e eterna disponibilidade", aquela "em que se colocará nas mãos de Deus, na sua mão direita". Até o "último adeus aos adeuses merencórios da vida", como êle escreve no Prefácio a êste livro e que é "o mais alegre de todos por ser o prelúdio do verdadeiro A DEUS que se aproxima".

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