Se é verdade que as independências foram consideradas como um dos principais acontecimentos da história africana contemporânea, é forçoso constatar que, hoje em dia, a sua crise de pertinência constitui uma verdadeira provocação à inteligência africana. A aparente deriva do continente negro traduz-se, na prática, na sua marginalização crescente no plano internacional, na implosão política das suas sociedades, no seu declínio económico e na sua estagnação intelectual. No entanto, por trás das máscaras das instituições monolíticas e de projectos autoritários, manifesta-se, muitas vezes desordenadamente, uma criatividade social espantosa, cuja lógica se afasta largamente dos aparatos oficiais. Este livro debruça-se precisamente sobre os frutos desse "trabalho cultural" nos domínios religioso e simbólico. Explica-nos que a capacidade inventiva das sociedades africanas põe em causa a pretensão de hegemonia das religiões monoteístas, em especial a do cristianismo. As igrejas e teologias são profundamente abaladas. Fazendo um uso engenhoso do conceito de indocilidade, esta obra demonstra de que modo a dinâmica de invenção em vigor pode simultaneamente legitimar a insubmissão africana e reforçar os seus poderes. Recusando tanto as polémicas dos discursos autóctones sobre a identidade e a diferença, quanto as complacências de um certo "Africanismo", esta "leitura do interior", erudita e solidamente argumentada, abre novos espaços de reflexão sobre o pensamento africano.
Sociologia