A obra é o homem. Essa máxima da teoria literária é vista com nitidez na obra do português Camilo Castelo Branco. Homem de vivência desregrada e ultra-romântico obra igualmente ultrarromântica. Impossível analisar o acervo camiliano sem contextualizá-lo ao seu estilo de vida.
Só assim pode ser vista a novela Amor de Perdição, que narra a história de um casal de adolescentes e seu romance malfadado. Como o mito de Píramo e Tisbe, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque são vizinhos, mas suas famílias se odeiam devido a uma causa de litígio vencida por Domingos Botelho, pai de Simão, em detrimento de Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa.
O amor exacerbado e proibido dos protagonistas de Amor de Perdição foi fortemente influenciado pela experiência de vida de seu autor. A Teresa de Camilo Castelo Branco é Ana Plácida, mulher casada que, juntamente com o autor português, foi presa a mando do marido traído. E é na prisão que Camilo em tempo recorde de quinze dias escreve sua mais conceituada obra. Para Camilo Castelo Branco a literatura foi, além do suporte financeiro, seu sustentáculo anímico. Para ele a literatura é uma necessidade urgente de dar vida a sua existência, por isso em Camilo a catarse se dá muito mais via escritor-obra do que obra-leitor. O que não diminui em nada sua literariedade, já que como profundo conhecedor da estrutura da língua portuguesa Camilo tem uma faculdade de expressão magistralmente ágil e culta, domina os recursos da linguagem produzindo textos dinâmicos e de marcante aceitação. Suas tramas, mesmo previsíveis, prendem a atenção do mais monótono leitor.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance