Anos de Lutas

Anos de Lutas Michel Dymetman


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Anos de Lutas


Relatos de um Sobrevivente do Holocausto




As histórias que os meus avós - saba e safta1 - contavam sempre permearam o imaginário da minha família. Eu as
cresci ouvindo atentamente, num misto de estranhamento e fascínio. Um dia, quando adolescente, vi o
manuscrito original deste livro, escrito em 1988, guardado no canto de uma estante do quarto da minha mãe e o
peguei para folhear. Fiquei muito contente em ver que o livro era dedicado às netas, embora já o soubesse, e comecei a
lê-lo. Na época, não compreendia bem aquilo que eu lia, nem a importância daqueles relatos, só sabia que as histórias
da guerra que eu sempre ouvia estavam com mais detalhes e pareciam mais reais, o que me levou a perguntar e a
conversar mais com os meus avós acerca daquela época.
Anos mais tarde, numa estadia na Europa, resolvi conhecer alguns dos lugares descritos neste livro, como os
campos de Drancy (França) e Mauthausen (Áustria), além de visitar campos de concentração na Alemanha e na
Polônia. Aquela viagem transformou a leitura que eu fiz na adolescência. Mais que isto, me fez sentir um pouco da
emoção presente naquelas histórias que eu já conhecia tão bem. Então, eu percebi que não apenas os meus avós e
bisavós tinham sobrevivido àqueles dias sombrios, mas toda a minha família, inclusive eu e as futuras gerações.
Aquele manuscrito, então, passou a fazer parte da minha própria história.
A partir de então, entendi que sendo terceira geração de sobreviventes, eu precisava continuar os esforços do meu
avô em contar aquela história, e sugeri a ele que publicássemos o livro, me comprometendo a fazer o esforço para tanto.
Ele concordou, feliz por poder dar continuidade a algo iniciado há 23 anos. Além disto, minha mãe e minha irmã também
se envolveram neste trabalho. Assim, a riqueza deste livro não está apenas nos testemunhos presentes, mas no processo
como um todo, que envolveu o empenho de três gerações a fim de preservar a memória da família e, consequentemente,
do nosso povo.
A memória é uma forma de protesto, disse Elie Wiesel em seu discurso de premiação do Nobel da Paz. Protesto
não apenas contra o Holocausto, mas contra todas as pessoas ou Estados que negam ou perpetuam a crueldade e
desrespeitam os Direitos Humanos. Assim, é preciso ter em mente que a memória e o passado são uma constante
construção. Isto é, o passado não é apenas aquilo que ocorreu, mas é a percepção que se tem do que ocorreu,
percepção esta que é reconstruída a todo instante no nosso presente. Portanto, é no aqui e no agora que escolhemos
como queremos narrar a nossa história, e isso dá o contorno da nossa própria identidade. Da mesma forma, a maneira
como contamos a nossa trajetória também muda o nosso olhar para o futuro. Citando Wiesel, “sem passado não há
futuro, pois o oposto do passado não é o futuro, mas a ausência deste, assim como o oposto do futuro não é o passado,
mas a ausência de passado. A perda de um equivale ao sacrifício do outro”.
Primo Levi dizia que os sobreviventes podem ser divididos em dois grupos, “os que calam e os que falam”. É com
carinhosa admiração que eu agradeço imensamente ao saba por ter tido a possibilidade e o desejo de contar a sua
história e a da safta. Convido a todos a participarem desta memória, boa leitura.
Neta de Michel Dymetman

Biografia, Autobiografia, Memórias

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on 21/5/20


Já tive o prazer de ver o Sr. Michel pessoalmente falando e contando algumas histórias do holocausto. Foi assim que conheci o livro e fiquei curiosa para ler. O livro é bem simples, mas é fantástico! Para quem gosta de biografias ou quer conhecer mais sobre este período da 2ª guerra, eu super recomendo!... leia mais

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Michael
cadastrou em:
21/05/2013 18:02:06
Leila Carvalho
editou em:
08/05/2023 21:58:03

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