Chamar um período de dez séculos de "Idade das Trevas" só faz jogar um manto de escuridão e incompreensão sobre a história. O estereótipo é que a Idade Média seria apenas um atraso na evolução do Ocidente.
Há ao menos três equívocos nessa visão. Em primeiro lugar, ela se baseia em uma concepção de história que entende a trajetória da humanidade como uma linha de "progressos e recuos", como se fosse uma evolução no tempo "rumo" a alguma coisa, e o "progresso", essa palvra complicada, um valor em si mesmo. Na realidade, a história é muito mais rica e múltipla do que uma reta de sentido único.
O segundo erro é o de ponto de vista. O "atraso" da Idade Média se confunde com uma visão eurocêntrica, justamente por ser esse o período de maior fraqueza dos povos europeus diante dos "outros", os cristãos ortodoxos de Constantinopla e os califados islâmicos que cercavam e até ocupavam partes da Europa Ocidental.
O último equívoco é quando, ao invés de compreender o passado, o julgamos pelos valores atuais. A Idade Média foi um período rural, afeito às tradições, à rigidez dos papéis sociais e bastante inóspito para a ciência, a tolerância e os valores igualitários. Não é uma época para se ter saudade... Mas os textos reunidos nesta edição mostram que também foi um período rico e complexo, cheio de nuances e contradições entre o discurso do poder e o cotidiano das pessoas.
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