As esquinas perigosas da História

Seria anacronismo debater revolução hoje? Ao contrário, uma das idéias que têm paralisado a esquerda contemporânea é justamente a de que a construção do futuro não pode mais contemplar descontinuidades, rupturas. Esse futuro ´possível´, que a política pragmática reduz a uma soma de ações de curto prazo, por certo não contém o caráter radicalmente novo daquilo que será; resume-se a mero prolongamento do presente. Tal realidade é bem exemplificada na atual política brasileira. O processo histórico sempre combinou períodos de desenvolvimentos graduais, quantitativos - as reformas que conservam -, e outros marcados por mudanças abruptas, qualitativas, e imprevisíveis por definição. O abandono da percepção da História como um estudo da transformação das sociedades reduz lugar desta a um jogo intelectual de salão, no dizer de Hobsbawm, e favorece a apologia das instituições do poder vigente; uma idéia genérica de democracia, cada vez mais desconectada da vida real das pessoas, que perpetua, de fato, o domínio da contra-reforma conservadora. O século XX - o mais revolucionário da História - é o campo no qual Valério Arcary vai garimpar os elementos constitutivos desses momentos de transformação da humanidade. Conscientemente, o autor ultrapassa os estreitos limites dos debates atuais, marcados pelo rebaixamento das expectativas e o predomínio do pragmatismo vulgar, incorporando a experiência dos movimentos sociais, e ajudando a amadurecer uma compreensão sobre os novos desafios para aqueles que querem mudar o mundo.