Tinhorão traça o percurso da canção popular — a música vocal acompanhada por instrumento harmônico, de caráter individual e autoria conhecida — desde os seus primórdios, quando surge em contraposição à música de caráter coletivo da Antiguidade e da Idade Média, até chegar a sua consolidação em Portugal no século XVIII, com a introdução na Corte da modinha e do lundu pelo cantor e compositor brasileiro Domingos Caldas Barbosa.
Apesar de todos concordarem em que a música folclórica é a que se transmite de forma oral, atendendo a interesses de coletividades locais, e a música popular é aquela de autor conhecido, difundida por meios teóricos ou tecnológicos, sujeitando-se a modas (nacionais ou internacionais), ninguém havia respondido ainda a esta simples pergunta: afinal, quando surgiu tal tipo de música capaz de universalizar-se e provocar tanta repercussão?
Em As origens da canção urbana, José Ramos Tinhorão vai buscar na formação das primeiras grandes cidades de caráter pré-moderno, como a Lisboa da época das grandes navegações, a resposta a essa pergunta, dentro do princípio — por ele mesmo formulado — de que a novos conteúdos sociais devem corresponder, necessariamente, novas formas culturais. E eis como, de repente, o fenômeno tão atual da música de massas remonta ao século XVI.aolp