Às vezes o buraco é mais embaixo

Às vezes o buraco é mais embaixo Johann Heyss


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Às vezes o buraco é mais embaixo





"Amanda bateu o olho em Lauro e achou a presa fácil". O leitor ou leitora bate o olho em "Às vezes o buraco é mais embaixo" e acha o livro fácil. Depois, direto. Depois, duro. Depois, seco. Depois, sexo. Depois, terno. Depois, estranho. Depois, inexplicável. Mas só há um adjetivo capaz de sintetizar este romance de Johann Heyss: surpreendente. De uma fase à outra desta história-game, em que as personagens têm seus papeis muito bem definidos e distribuídos, em que a progressão das dificuldades se dá em sequência tão correta quanto esfuziante, em que os pontos e vidas são ganhos e contados um a um na cadência da inclemência própria do jogo, a surpresa, que é aquela que só se revela num difícil final, vai sendo cautelosa e friamente gestada. E é ela que te pega, entontece e liquida num golpe baixo. Nada fácil de levar.

Com uma aura de virgindade, o buraco vai se abrindo pouco a pouco. O terreno é tateado for the very first time pelo autor, que nos entrega uma corajosa versão tarantinesca de romances de banca de jornal para mocinhas sonhadoras. O clássico boy meets girl (ou seria meats?) é pervertido até o talo, até que não sobre pedra sobre pedra desta efêmera construção que é qualquer relação. Mas há total, diria, brutal coerência na trajetória desta, à semelhança de uma bala na cabeça de um suicida. O buraco da existência na aurora deste século 21, esquadrinhado por meio dos tipos antagônicos que se encontram - o rapaz vegano ingênuo/idealista e a moça herdeira de um império agropecuário politicamente incorreta e fútil - não tem "entre", não tem zona cinza e por isso mesmo, engendra-se o imprevisível.

O ritmo é violento, resfolegante, intenso. O ambiente, claustrofóbico. Estética do choque forjada à pólvora substantivada. A obra é um coquetel ardente de webwriting, thriller erótico noir, João Ximenes Braga, literatura beat. É, ainda, um quadro de Toulouse-Lautrec se o pintor francês perambulasse por um Starbucks novaiorquino, ou um filme de John Hughes se o cineasta oitentista tivesse a missão de radiografar tipos hipster da era que começa arrotando a decadência ideológica do século 20 e tentando, sofregamente, apontar um futuro novo, onde individualismo e coletividade se abraçam e se entendem, finalmente.

"Às vezes o buraco é mais embaixo" é este livro que passa na Sessão da Tarde do canal Inferno, sem dar solução para os dilemas morais, éticos, sentimentais destes tempos confusos em que nunca se clamou tanto por SENTIDO. É um livro sentido em cada nervo, é um livro-obsessão. É sobre, antes de mais nada e depois de tudo, um tema tão caro à literatura universal: a fragilidade humana.

(orelha do livro pela poeta e jornalista Leïlah Accioly)

Ficção

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