Até Sempre

Enigmáticas, surpreendentes, envolvidas por situações insólitas, as personagens de Até Sempre vivem naquela fronteira perigosa entre razão e desrazão, a um dedo da demência. Edla van Steen gosta de sondar essas almas estranhas, em geral mulheres. O coração feminino é a sua terra mágica e de pesadelos, pela qual passeia com curiosidade e inquietação, como se comprova nos onze contos desse livro.
Em Até Sempre, que dá título ao livro, duas velhas senhoras, vivendo maritalmente com o mesmo homem, têm a sua vida sacudida pela presença de uma sobrinha, escritora estranha que publicara um conto em que a personagem cortava o próprio pai num cepo de açougue.
Tão ou mais inquietante é a octogenária de A Promessa, que passa anos sem cortar as unhas, só admitindo fazê-lo no dia em que a filha abandonar o marido e voltar para casa. Folha de Parreira narra as relações de um casal com um parceiro, cujo mamilo é pintado de verde. A separação de uma família devido a presença de uma estranha carregando um bebê é o tema de Lembranças no Varal: a Roda.
Por vezes, o mistério das almas anda em paralelo ao mistério de uma determinada situação, como no instigante Apesar de Tudo, história de uma modelo e de um anão apaixonado, que termina em um assassinato sem solução.
A morte também está presente em A Bela Adormecida (Roteiro de uma Vida Inútil), no qual a suicida narra seu gesto extremo, enquanto presencia seu próprio funeral.
Em Vocação para o Canto Orfeônico um viúvo vive uma estranhíssima relação com seu filho, procurando inclusive imitar a mãe no ato de aleitamento. Curiosa e atenta às reações de seus personagens, com a precisão de um operador utilizando o bisturi, a autora sonda esse universo mórbido com a naturalidade de quem caminha por uma rua ensolarada, o que aumenta ainda mais a sua estranheza e o seu fascínio.

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