Aula Magna

Essa tal de Aula Magna parece que foi inventada para Ariano Suassuna. O homem dá um show de erudição, conteúdo, precisão comunicativa e bom humor. É como se o professor estivesse num palco divino, à altura do seu elevado espírito criativo, polêmico, radical, irreverente, crítico, lucidamente angustiado e risivelmente sério.
É difícil saber, entre os Arianos, o dramaturgo, o romancista, o poeta, o professor ou pesquisador da cultura brasileira e universal, quem brila mais. O que se vê, como denominador comum, é um Ariano Suassuna atemporal. Uma espécie de ser humano composto do menino de Taperoá, do adolescente do Recife e do homem que aí se tornou um refinado intelectual e cidadão do Brasil e do mundo. A paixão é o fogo sagrado motivador do que faz e das causas que defende, na vida cultural, social, econômica e política brasileira.
Assim com a sua obra,a Aula Magna de Ariano é uma formidável e bem fundamentada denúncia crítica dos dos Brasis seculares: o Brasil oficial e o Brasil real. Este, o país dos índios, negros e pobres em geral, com sua capacidade criativa submetida. Aquele, o país das elites dominantes, promotor e beneficiário da cisão nacional.
Nesta Nação dividida, há visões, necessidades, manifestações e anseios opostos, em áreas essenciais da vida humana organizada: na cultura, nas artes, na economia, na justiça, na educação, na saúde... A história demonstra a prevalência das vontades e verdades dos poderosos. Não é por acaso que a cisão entre o Brasil real e o Brasil oficial vem aumentanto no tempo.
Ariano é esperançoso, quanto à construção de uma verdadeira Nação brasileira. Ele é o nosso Dom-Quixote contemporâneo, mas consciente da contundência das forças que enfrenta. Até porque sabe que o sucesso dessa luta envolve o abrandamento do inferno interior de cada um de nós que compomos as classes privilegiadas. Sem isso, dificilmente o Brasil oficial se tornará expressão do Brasil real.