Pensar na ideia de um poema enquanto ser sugere eximir o autor de suas responsabilidades, um pai bêbado renegando enquanto tenta lidar com as próprias memórias. No que se entende como poesia talvez caiba a vida órfã, o sujeito que se ausenta e volta no final para ver como ficou tudo que deixou para trás e ainda cobrar pelo inacabado. Em “Neste dia tão vazio”, romance e livro de estreia, Rogério Pereira faz um exercício sobre o fim da vida e analisa as horas impossíveis, esboçando esperança ao encarar os infortúnios enquanto possibilidades, ou não. “Boca do Estômago” é uma nova tentativa de pensamento sobre a existência. E a forma como maneja a linguagem poética se mistura com a mais sincera busca pelo sentido de cada coisa, dessa vez mais dono das próprias razões, admitindo que com uma cerveja nas mãos há poesia o tempo todo e que esse ser-poema provavelmente seja um estrangeiro míope tentando olhar e dizer tudo como se fosse a primeira vez.
Poemas, poesias