Braço é Braço

Braço é Braço Victor Andrade de Melo


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Braço é Braço (História do Esporte: Olhares e Experiências)


o Sportsman Abrahão Saliture




Com dois livros – este e “A Barra da Tijuca, os Clubes Recreativos e o Processo de Urbanização”, damos início à coleção “História do Esporte: Olhares e Experiências”. O objetivo dessa iniciativa está apresentado na página 2. Temos em conta, contudo, outros estímulos, notadamente impressões sobre o modo de funcionamento de algumas revistas científicas.
Periódicos são das mais importantes agências do campo científico. Cumprem uma função fundamental. Merecem ser respeitados e valorizados, ainda mais em momentos tão obscuros, marcados pelo ataque à ciência. Isso não significa, todavia, que não possam ser criticados.
Não é nosso intuito produzir um tratado sobre o tema. Antes de qualquer grande reflexão sobre o assunto, o que nos move é nossa experiência concreta de autores, pareceristas e editores. Alguns dissabores que temos enfrentado não nos parecem ocorrências individuais, mas manifestações de problemas generalizados que talvez mereçam maior atenção.
Podemos resumir nossas impressões, de forma pontual, em três itens:
a) revistas cada vez mais burocráticas, com cada vez mais exigências formais, cada vez mais limites e menos espaço para a inovação;

b) pareceristas cada vez menos atentos a uma visão global do conhecimento, presos a minúcias, sem disposição de estabelecer debates a partir de seus pontos de vista (nem sempre suficientemente embasados);
c) editores cada vez menos editores, cada vez mais organizadores, cada vez menos dispostos a efetivamente intervir no delineamento de um perfil que aponte para um periódico que realmente possa oxigenar o campo e não só cumprir determinados requisitos.
Obviamente, não se trata de culpar revistas, pareceristas e editores. O problema é complexo e requereria análises e respostas mais profundas. O centro da questão é a própria forma como a ciência em geral tem sido concebida no mundo, em especial no Brasil.
Como dito, nosso intuito não é estabelecer esse debate, mas procurar alternativas. Uma que encontramos para seguir investigando à busca de abordagens e temas inovadores, considerando inclusive outros formatos de difusão das pesquisas, bem como tendo em conta a falta de recursos, foi lançar uma coleção de e-books na qual poderíamos fazer circular mais livremente o conhecimento produzido.
No caso deste livro, meu interesse recaí sobre a vida de um atleta. Desde a investigação que deu origem a minha tese de doutorado, defendida em 1999, lançada em livro em 20011, sempre me pareceu fascinante a trajetória de Abrahão Saliture. Quem seria esse personagem que constantemente aparece em minhas pesquisas, eventualmente é citado em reportagens, mas não recebe, nos dias de hoje, maior atenção, provavelmente por não ter conquistado medalhas nos Jogos Olímpicos?2.
Decidido que me debruçaria sobre a trajetória de Saliture, pensei em adotar a hipótese de trabalho que já há algum tempo venho investigando: os atletas dramatizaram novas performances públicas relacionadas ao conjunto de mudanças em curso na sociedade fluminense na transição dos séculos XIX e XX, ligadas ao processo de adesão ao ideário e imaginário da modernidade, à maior circulação de noções de civilização e progresso.
Como de costume, passei a buscar informações sobre Saliture em periódicos, livros, anais de eventos, teses e dissertações, sites. Nessa etapa, reforçou-se minha impressão inicial – no âmbito acadêmico, pouco foi escrito sobre o atleta que, no mínimo, deveria despertar maior curiosidade por sua longeva carreira esportiva – foi campeão no início do século XX, representante do Brasil nos Jogos Olímpicos de 1920, bem como nos de 1932.
Parti então para o trabalho com as fontes, prospectando os periódicos disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, num largo período de tempo – dos anos 1870, a fim de buscar as origens familiares de Abrahão, até a década de 1960 – quando faleceu. Após esse esforço, a investigação ganhou novas conformações. O volume de informações encontradas se mostrou surpreendente. Foi se descortinando uma trajetória impressionante de atleta, uma família envolvida com o esporte, um personagem que expressou profundamente o espírito de um tempo.
O desafio passou a ser organizar tamanho conjunto de dados, inclusive muitas imagens, outro indício de que Saliture teve certa importância em seu tempo. Meu intuito inicial era dividir a discussão em itens/temas ligados ao problema central (as novas performances públicas). Tendo em vista o que encontrei, todavia, adotei outra estratégia. Sem abandonar os debates conceituais, decidi dar maior centralidade para a trajetória do atleta.
O personagem se impôs, e me deixei guiar por ele. O que era para ser um artigo, virou um pequeno livro que não esconde o desejo de ser também um exercício de preservação de memória e prestação de homenagem a Abrahão Saliture, esse fascinante sportsman cuja história nos transporta para um momento importante tanto do esporte quanto da cidade do Rio de Janeiro.

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