Esta é uma narrativa estereofônica de uma paixão coletiva, formidável e avassaladora paixão, que a cada quatro anos se instala, como uma febre, na alma das multidões. O autor, que tem o sentido aguçado das sonoridades, tramou as suas estórias e fez viver os seus personagens no desvario dessa paixão, numa espécie de concha acústica onde ressoam sem cessar as ruidosas vibrações da rua, os brados e exclamações do entusiasmo popular, o palavreado difuso e desconexo que excita a euforia das pessoas, a eloqüência expressionista e delirante das transmissões radiofônicas e, na hora do combate, o rugido onipotente da galera estrondando no Maracanã. No final de qualquer Copa do Mundo, num país carente de afirmações nacionais, os dramas e as preocupações individuais se tornam subitamente incomunicáveis porque a solidariedade que se concentra por inteiro na confraternização cívico-futebolística fica cega e surda, perde a paciência e a generosidade. A dor e o sofrimento do próximo passam a ser inoportunos e inadmissíveis. Os episódios engraçados e pungentes vividos nestas páginas são estórias do quotidiano que ganham uma dimensão insólita e surrealista pelo simples fato de acontecerem quando acontecem num dia de finalíssima de qualquer Copa do Mundo. São situações que, de dramáticas, tornam-se tragicômicas, transfiguradas nessa singular atmosfera de multidões entusiasmadas. O livro desvenda também a intimidade das concentrações. As angústias, as tensões, os medos e os sobressaltos que afligem e atormentam os atletas, ídolos e heróis condenados, pelo brio enlouquecido da alma nacional, a vencer, vencer, vencer! Brasil F.C. novela com sonoplastia é o retrato de uma apoteótica emoção. N.C.M.