Cabeça Bipolar

Em novembro de 2014, o jornalista Tiago Júlio Martins decidiu produzir para um concurso literário um romance autobiográfico. Ele é portador do Transtorno Afetivo Bipolar e se propôs a narrar sua história da infância à idade adulta. Para cumprir o prazo das inscrições, o livro teria que ficar pronto em apenas 27 dias. O objetivo era traçar um panorama psicológico que percorresse os caminhos que levaram o autor a experimentar um grave surto psicótico, aos 22 anos, no final de 2013. A auto-exploração deveria revisitar episódios engraçados, experiências marcantes, desilusões, traumas e paixões abordando temas universais a partir do ponto de vista de um bipolar.

O processo criativo acelerado, porém, escondia um grande risco. “Cabeça Bipolar” levou o autor a um novo surto psicótico. A história foi reescrita por ela mesma durante sua criação e só foi concluída meses mais tarde. Proveniente de um fluxo irreprimível, no livro, a loucura foi intensamente lembrada e registrada. Boa parte da narrativa é ambientada na internet e oferece um panorama das relações afetivas na era digital. A trama é repleta de referências à cultura pop, cinema, videogames, música e literatura.

Longe de se pretender um livro egocêntrico maçante, o romance busca, a partir do relato pessoal, uma identificação direta com o leitor. Para construir esta relação de proximidade, “Cabeça Bipolar” contém passagens como: brincadeiras de rua; paixões platônicas e desilusões amorosas; dificuldades com mudanças de escolas; bullying no Ensino Médio; o drama do vestibular; as possibilidades da universidade; a descoberta do sexo; os primeiros porres; as aventuras profissionais; a perda de grandes amores, enfim. São experiências comuns a milhões de pessoas que, certamente, terão reconhecimento pelo narrador por se verem vivendo ou tendo vivido situações semelhantes. Mesmo tratando de temas sérios, como a perda de personalidade, loucura e suicídio, Tiago busca tratar assuntos tabus com naturalidade e sensibilidade, de forma responsável e consciente, a fim de oferecer uma visão singular do funcionamento de uma mente conturbada.

A versão física do livro, com uma tiragem reduzida, foi publicada de forma independente em 2016 e teve uma grande receptividade: esgotou em menos de uma semana. Nesta segunda edição, constam seis capítulos a mais que não estão na original impressa. Uma atualização necessária e merecida para apresentar a novos e antigos leitores os progressos na vida do escritor. O objetivo principal de “Cabeça Bipolar” é proporcionar uma visão sensível sobre como é conviver, desde muito cedo, com problemas como depressão, ansiedade, baixa autoestima e variações acentuadas de humor. Uma história cheia de romance, superação, recaídas, surpresas e um pouco de humor também: feita para entreter, mas, acima disso, desfazer estereótipos, preconceitos, estigmas e emocionar, provocando reflexões, empatia e afeto.

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