Caos seguido de Ex-homens

Da novela Caos, intitulada “Paixões de cara gorda” no original russo, é possível dizer que se trate de um “breve estudo”, como outros do autor, sobre certas paixões, vícios, que se agitam na alma russa, turbando-a surdamente, assim como em outras obras de Górki, como Os Orlov e Ieralach (“Confusão”), nas quais a um personagem íntegro se opõem personagens viciosos. Com efeito, Caos é a estranha história de uma jovem artesã que, não obstante sua incoerente “inocência”, entrega-se com tenacidade à embriaguez e à libertinagem. É-lhe consolação o seu filho único, menino aleijado de nascença, cuja inteligência e beleza angelical atraíram o compassivo protagonista, que o leitor habituado a Maksim Górki chamará, tacitamente, “Maksim”. No Brasil e alhures, a novela figura entre as melhores do autor. — Publicada em 1917.

Com ares de novela longa, o esquete teatral Ex-homens oferece ao leitor uma rica galeria de homens da velha Rússia que, por variadas desditas, decaíram da sociedade e já não podem ascender a ela, razão por que se chamam “ex-homens” ou “os que já foram gente”, contando-se entre eles clérigos expulsos, professores beberrões, ex-funcionários públicos. Ex-homem assim é o capitão reformado Aristid Kuvalda, homem sagaz e falido tipógrafo que mantém, nos arrabaldes arruinados de uma pequena cidade, um albergue noturno, onde os “que já foram gente” buscam abrigo, obséquios, e contam suas histórias. São frequentadores “ilustres” do alojamento: o ex-inspetor de prisões Martianov, homem que só vive em função do baralho e de “outras artes pouco simpatizadas pela polícia”; o jovem alquebrado Rebotalho, que se ocupa da fabricação de vassouras e de alfinetar, com precisão, o albergueiro Kuvalda; o diácono Tarás, que fora forçado a largar a batina por embriaguez e cuja eloquência competiria com a do Marquês de Sade — e outros mais. Como outras obras de Górki, Ex-homens é história baseada nas desventuras do autor. — Publicada em 1897.

Literatura Estrangeira