Um dos mais conhecidos contos de Cortázar, A casa tomada foi escrito em 1946 e faz parte
de seu livro Bestiário, publicado em 1951. A edição usada nesta análise é a de 1986, traduzida por
Remy Gorga Filho.
Logo no primeiro parágrafo, o narrador-personagem revela ao leitor sua afeição e de Irene
(sua irmã) pela habitação. Na verdade essa relação afeta determinados comportamentos do narrador
e de Irene como a divisão das tarefas domésticas (almoço, limpeza, etc.), sua rotina de vida e,
também, a escolha por não se casarem. Fato esse que chega a personificar a casa, pois é a ela que
essa decisão é atribuída. O narrador intra e homodiegético fala num tempo psicológico, portanto
íntimo, sobre seus pensamentos e os de sua irmã em relação à casa e à genealogia fundada por seus
antepassados naquele espaço. A relação de intimidade dá-se não apenas entre os irmãos, mas (e
principalmente) entre a casa e eles. Se pensarmos no sentido de nosso primeiro universo e no valor
de intimidade que Bachelard atribui ao espaço da casa, podemos afirmar que Cortázar trabalha com
a noção de intimidade em abismo, ou seja, um espaço de intimidade que retrata intimidades coletivas
(família/ genealogia fundada) e individuais (cada membro dela) em espelhamento. Em nossa
visão topoanalítica essa é uma das riquezas de construção desse conto.