Em meados de 1997, o jornalista Marco Antonio Araújo — responsável pelo projeto de Educação e seu editor por alguns anos — fez o convite para que eu assumisse uma coluna sobre cinema na revista. Nenhum de nós imaginava, naquele momento, que a colaboração fosse se estender por quase 17 anos e cerca de 200 edições, sob a chancela de diversos outros editores — inclusive eu mesmo, que tive o prazer de chefiar a equipe em 2005 e 2006, e Rubem Barros, atual diretor editorial da Editora Segmento, a quem agradeço pela oportunidade de reunir o trabalho nesta série de e-books.
Oportunidade que me deixou, devo admitir, um tanto desconcertado. Ler e editar textos que escrevemos há muito tempo leva a uma sensação curiosa: o autor é uma figura familiar, a que encontramos diariamente ao olhar para o espelho, mas às vezes parece mesmo outra pessoa — pela ênfase em certos aspectos dos filmes, pelos comentários sobre temas educacionais, culturais e sociopolíticos, até mesmo pela construção de frases e uso de palavras. Quero com isso dizer que, se fosse convidado hoje a escrever novas análises para a Educação sobre os títulos reunidos nesta coletânea, faria provavelmente textos muito diferentes. Eles manteriam, em linhas gerais, o juízo que expressei sobre os filmes na ocasião, mas espelhariam preocupações distintas.
A seleção de filmes para a coluna obedeceu a diversos critérios. A coordenada mais importante, estabelecida desde o início com Araújo, foi a de adotar um conceito amplo para delimitar o leque de filmes que poderiam interessar ao leitor de Educação. Representações da escola, dos processos de ensino e aprendizagem e das condições de trabalho de educadores constituíram, evidentemente, assuntos de grande relevância. Mas outros temas correlacionados a esses — como as representações da infância, da adolescência e da juventude — e também aspectos do mundo em que vivemos pautaram a escolha dos filmes, assim como idiossincrasias pessoais.
Cinema / Educação