Clínica do Impossível

A publicação dessa obra é motivo de comemoração para todes aqueles que se aproximam do campo da psicologia clínica. Mas não só. Clínica do Impossível contempla assuntos relacionados a diversos grupos sociais e campos de pensamento (arte, filosofia, política e outres). Lucas Veiga promove uma costura singular entre tais campos e faz questão de marcar seu compromisso com a fuga como produtora de novos horizontes. Fuga como prática de liberdade e conquista de territórios existenciais negados pela dinâmica colonial. Conduzides por sua escrita paradoxalmente errante e assertiva, somos levades para a criação do mundo, onde Nanã nos espera paciente com suas lições sobre o ilimitado da matéria humana. Amparades por essa sabedoria ancestral, nos fortalecemos para a formação dos nossos quilombos, nos reumanizando enquanto pessoas pretas. Somos filhos da terra.

Isabela Coutinho, psicóloga clínica.

Quando digo que a clínica com pessoas negras é uma clínica do impossível, quero dizer que, por mais diversos que sejam, todos meus pacientes negros e negras precisam encarar o impossível da resolução do racismo e este encontro com o impossível pode ter como resultado uma sensação de impotência e insuficiência que resvala em várias áreas da sua vida. Ao mesmo tempo, este encontro com o impossível coloca diante de nós a urgência da fuga. Era impossível a população negra sobreviver ao projeto de extermínio do colonialismo e do genocídio ainda presente no Brasil, mas não apenas sobrevivemos como estamos em todos os lugares, nas ciências, na música, na literatura, na filosofia, na política, nas artes, nos esportes. Apesar de termos de lidar com a máquina mortífera do racismo, seguimos produzindo realidades e modos de vida impossíveis considerando o cenário em que vivemos. O paradoxo da clínica com pessoas negras é este: o impossível do fim imediato do racismo e o impossível de sermos totalmente capturados por ele.

Lucas Veiga, psicólogo e mestre em Psicologia Clínica.

Medicina e Saúde / Psicologia