Conceito de Amor em Psicanálise

Conceito de Amor em Psicanálise Maria Madalena de Freitas Lopes


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Conceito de Amor em Psicanálise





O amor em suas primeiras definições é completude e falta (conforme Platão, no Banquete). Noções que Freud desvela para além do imaginário, seguindo as pistas do sexual que marca presença; para além do eu, mais precisamente, como aquilo que o coloca fora de centro e exige forças que possam contê-lo ou mesmo adoecê-lo, tamanha sua voracidade em insistir ser reconhecido. A completude exigida pelo eixo pulsional (ou sexual conforme Freud) não permite definir um objeto — que, como um dos quatro termos que compõe a pulsão, fonte, objetivo e pressão, é o mais variável —, seguindo os ensinamentos do pai da psicanálise, o que importa é a satisfação. Numa dimensão oposta, o objeto é caro ao amor: é o outro. No enamoramento, este é capaz de empobrecer o eu. No imaginário humano o objeto é idealizado e traz consigo a morte do eu, tal qual é descrito no mito de Narciso, de forma a existir apenas o outro. No fluxo desta balança libidinal eu-outro, o quantum afetivo flui de um polo a outro, numa vertente dual.

Conceito de amor em psicanálise se inicia trazendo as definições dos objetos da pulsão e do amor e como estes se distinguem. O objeto da pulsão é sempre um objeto parcial, o outro do amor é um todo, uma imagem que unifica e fascina, da mesma forma que ocorre com a instauração do eu narcísico.

Explorando a vertente imaginária o texto segue o percurso de Freud, do narcisismo até o conceito de pulsão de morte. A morte ao adentrar a cena psicanalítica demanda um novo discernimento e abre-se à castração — falta humana por excelência, que permite a consciência do existir e de seu limite. A castração coloca tal dimensão e empurra o gozo aos limites do corpo erógeno e acena com a impossibilidade de acesso ao seu objeto, enquanto objeto de gozo, sempre demandado e fora-da-linguagem. Na linguagem — por ser uma questão de lei, de regras — coloca-se a questão humana. O campo do Outro — enquanto campo da linguagem — obriga o sujeito a se posicionar ao mesmo tempo em que o exclui do gozo. Permite a subjetivação e o sonho, uma vez que surgem aberturas, descontinuidades, brechas que possibilitam sua criação. Ou seja: a linguagem, por sua característica, permite a apreensão da existência temporal: que o sujeito exista e se posicione, existindo desde antes.

O campo do Outro (seus contornos) permite ao sujeito uma existência marcada pelo peso da falta, que por sua vez permite que o Outro do amor exista. Em suma, permite que outros existam: a cultura e relacionamentos. O amor resulta da superação do narcisismo — em sua vertente eu-outro — e, portanto, conta com a falta, que permite o Outro como terceiro, iniciando assim a criação de relações humanas.

O amor é uma invenção, recurso poético e primeiro, originário do humano, naquilo em que o Humano ganha destaque. Esta é uma trilha percorrida ao longo da história da psicanálise, que com Freud se inicia — e o amor força a cada passo que seja considerado e definido, impõe sua pesquisa no caminho da subjetividade e de seu eixo, o desejo. Assim se esclarece na perspectiva de Lacan, que persegue tal trilha. A repetição e a transferência que abordam a temática amorosa se revelam vinculadas à ordem pulsional (ou a sexualidade tal qual a psicanálise freudiana a revela). O gozo, a satisfação, a completude marcam presença na contramão do amor. Na neurose, verifica Freud, a incapacidade de amar se apresenta e revela — conforme os Estudos sobre histeria — o objeto (no caso, de gozo); apreensão que impossibilita pensar o amor e defini-lo, e que se apresenta como enigma... O amor ganha sua primeira definição a partir do narcisismo — é “amor a si mesmo” —, tão imaginário como Narciso e a fantasia, mas insiste em suas sutilezas que levam Freud a atentar e definir a morte, e destacá-la enquanto presença em sua teoria. Invenção também de Freud? É a interpretação do silêncio que marca o humano? Castração? O reconhecimento do Outro se vincula ao amor — mais precisamente, por seu Dom —, ganha os contornos do uso do símbolo, que surge como Lei; e o amor, por fim, é capaz de ser reconhecido como saída humana: é superação narcísica e presença da morte, castração na contramão da completude almejada pela pulsão.



Maria Madalena de Freitas Lopes: Psicóloga clínica, Pós-graduada em Psicanálise, Mestre e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUCSP. Professora e supervisora clínica na Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo. Título do Doutorado: Como as mulheres amam: um estudo semiótico-psicanalítico do amor feminino, 2002.

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