Depois da ascensão da burguesia, da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, a reviravolta da mentalidade científica acabou resultando na valorização da cultura popular, ao apagar das luzes do século XVIII. Foi a partir de então que os eruditos desceram de seu pedestal, passando a recolher, nas fontes, as antigas tradições que o povo teimava em preservar. Danças, canções, provérbios, crendices - tudo era matéria de compilação e estudo. Criou-se até uma palavra - folclore - para designar esse conjunto de tradições, todos esses temas de investigação.
Um campo logo vasculhado foi o das histórias infantis, ou contos de fada, de origem antiquíssima, conforme posteriormente se constatou. Eram aquelas narrativas que, por séculos a fio, vinham sendo transmitidas de pai para filho, com o objetivo de entreter as crianças e embalar seu sono. É bem verdade que alguns deles resultavam antes em pesadelos que em doces sonhos, mas isso já é outra história - e não da carochinha.
Recolher e recontar foi o caminho escolhido pelos eruditos que se dedicaram a esse tipo de pesquisa. Entre eles, destaca-se a curiosa dupla dos irmãos filólogos Jacob e Wilhelm Grimm, estudiosos alemães, que produziram uma obra de imediata aceitação, não só em sua terra natal, como em todo o mundo civilizado. Autores respeitados, já haviam publicado diversos trabalhos que lhes granjearam sólido conceito como gramáticos e dicionaristas. Assim, houve alguma surpresa quando do surgimento de seu livro de contos populares infantis. Não que fosse inesperado o fato de ambos lidarem com esse tema. O que surpreendeu foi constatar que os dois renomados mestres não publicaram um relato vetusto e compenetrado de suas compilações, mas sim o reconto das velhas historias tão conhecidas de todos, numa linguagem amena e singela, praticamente a mesma utilizada pelos que costumavam contá-las ao pé do fogo ou à beira da cama.
Assim, com espanto e emoção, os leitores encontraram, em letra de forma, antigos relatos que traziam escondidos e guardados no escaninho sentimental de suas histórias infantis. Ali estavam as histórias da Cinderela, O Alfaiatezinho Valente, Os Músicos de Bremen, A Bela Adormecida, João e Maria, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, tantas e tantas, cada qual mais bela, histórias eternas, que certamente continuarão a ser contadas pelos séculos vindouros, independente dos avanços tecnológicos que o mundo vier a conhecer.
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