Pai, mãe, filhos, criadas, criados, amigas, amantes, o mundo dentro e fora das paredes, o legal e o clandestino, numa família de lavradores alentejanos antes da reforma agrária, são descritos, ora em esboços rápidos mas incisivos, como cortados à navalha, ora em sugestões de sonhos onde não se sabe quando começa a realidade, neste novo romance de Almeida Faria.
Mas Cortes porquê? Cortes são separação, afastamento em relação ao passado. Por um lado, no processo descritivo do Autor, cada capítulo é um instantâneo fotográfico: apanha o momento e regista-o, contendo na própria suspensão do movimento que foi fixado toda a acção real ou imaginária. Por outro lado, Cortes são como fragmentos de um filme aparentemente soltos mas ligados pela montagem, que concentra os acontecimentos num período de vinte e quatro horas apenas.
Obra completa em si mesma, Cortes pode no entanto ser considerado o segundo volume de uma trilogia que principiou com A Paixão, editado há treze anos, e que encontrará em próximo volume a sua conclusão.
Literatura Estrangeira