O professor Vilson Caetano de Sousa Júnior nos revela, a partir de uma narrativa inovadora, a riqueza e a fragilidade das fontes documentais produzidas no século XX, identificadas no acervo da Delegacia de Jogos e Costumes da Bahia, recolhido, em 1987, ao Arquivo Público do Estado da Bahia. O pesquisador resgata, no período de 1938 a 1976, a repressão policial e a luta de resistência dos candomblés na Bahia. A opacidade e o meticuloso trabalho das fontes possibilitaram vislumbrar, além das estruturas de poder, o indivíduo que silencia. Isto porque o discurso do autor atribui um novo status social e científico ao Arquivo da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia.
O leitor poderá conferir a força simbólica da pesquisa realizada nas 40.800 páginas de ocorrências e queixas policiais de "batidas" em "Candomblés de Atabaque". Pesquisa que resultou em uma reflexão dotada de historicidade, voltada para a construção do discurso em relação ao passado - o legado.
Além disso, o levantamento de diversas tipologias documentais que integram o Fundo do Tribunal de Justiça da Bahia - escrituras, inventários, processos cíveis, processos crimes e testamentos - facultou encontros e reencontros com personagens singulares do Candomblé da Bahia, a exemplo de Júlia Maria da Pureza, Sabina Lúcia dos Santos e Manuel Rufino Souza.
Um texto prazeroso que nos instiga a refletir sobre o "lugar" de destaque do Arquivo Público no contexto sociocultural da sociedade baiana. O Arquivo Público do Estado da Bahia é então reconhecido pelo autor como observatório social de "fatos" e "verdades", assim como lócus de produção de significados e de conhecimento. Contudo, vale lembrar que o Arquivo, também, é um "lugar" de ausências, esquecimentos e silêncios.
Maria Teresa Navarro de Britto Matos
Diretora do Arquivo Público do Estado da Bahia
História do Brasil / Religião e Espiritualidade