Da cabeça aos pés:

Há décadas o cangaceiro povoa o imaginário coletivo. Embora alguns o encarem como herói, outros como bandido, há um consenso quando pedimos para qualquer pessoa descrever a aparência de um cangaceiro, elemento-chave da cultura nordestina, objeto de incontáveis estudos, escritos e representações artísticas as mais diversas. O imaginário popular solidificou uma determinada estética, elementos semióticos inconfundíveis e insepará- veis de figuras como Lampião, Corisco e Dadá.

Em meio a um vasto universo de produções sobre o cangaço, é difícil imaginar algum viés ainda não abordado. E é exatamente isso que faz Luciano Bonfim, que brilhantemente se embrenha por um caminho até então inexplorado, algo que para um pesquisador menos competente poderia levar a um mero exercício de diletantismo acadêmico. No caso deste livro, somos brindados com um texto agradabilíssimo e permeado por profundas reflexões embasadas em um vasto conhecimento teórico-metodológico.

Da Cabeça aos pés: a estética do cangaço nos leva a pensar os cangaceiros para além da dicotomia e do maniqueísmo tradicionais. Podemos perceber que houve toda uma construção imagética promovida pelos pró- prios cangaceiros, que de forma competente adequaram a moda, a música, a dança e outros elementos artísticos à sua disposição a uma realidade de privações, mantendo a estética sem perder o caráter utilitarista.

DOI: https://doi.org/10.35260/67960753-2021

Artes / Design / História / Sociologia