Da leveza à voracidade

Sempre escutei: não leve tudo a ferro e fogo, aprenda a ser suave. Difícil tarefa para alguém que possui em si a overdose e é superlativa em tudo, que passeia da leveza à intensidade como quem trafega por uma freeway vazia, sem congestionamentos ou barreiras, chegando rápido ao destino extremo. Vivendo e escrevendo sensações leves de peito aberto, singelas, algodão macio, pois quem nunca se sentiu assim, caminhando assim por trilhas que pedem afagos, docilidade por meio de emoções ternas e temas comuns vividos. Contudo, quem já não partiu ao extremo, de maneira sedenta, intensa ao sentir, no fazer e querer; de forma ousada, com traços de experiência de quem carrega e adiciona o que o julgamento permite. Essência bruta, desnuda para ir adiante, petulância consentida numa inexorável progressão de seguir. Sem-vergonhice velada, inocência mostrada ou vice-versa, aqui estão para serem lidas nas escritas horizontalizadas das páginas deitadas da malícia. Na ingenuidade das folhas retas, como uma massagem que prende e liberta a censura! O ir e vir, reto e torto, branco e preto, formas de antíteses, uma vez que nada e ninguém é sempre puro, brando ou leve. Temos no cerne as contradições, na alma as impurezas e os desejos! As mentiras, as verdades, as fantasias e as realidades. Somos certos ou incertos; há muito não julgo o errado, somos afáveis, somos rudes; e nesse espaço de ser reside o tanto, o muito. A dualidade literária e pessoal, leve e voraz, que carregamos em um pouco de todos nós! Sem arbítrio ou preconceito, de mente livre a sagacidade mais primitiva de cada um, desejos e vontades que vão da leveza à voracidade!

Crônicas