Darcy Ribeiro

O livro é resultado de duas pesquisas realizadas em instituições distintas, UFSCar e UFG, sobre Darcy Ribeiro, considerando sua trajetória e obra. Trata-se de colocar em debate campos disciplinares distintos - a história e a antropologia -, mas que nutrem profundo diálogo, refletindo a própria trajetória de Darcy Ribeiro.
O livro está dividido em duas partes: a primeira correspondente a um olhar da historiografia sobre a trajetória de Darcy Ribeiro, em específico, sua atuação enquanto senador da república durante o processo de consolidação da democracia no Brasil; e uma segunda parte, que diz respeito a problematização da Antropologia sobre o desenvolvimento e as relações deste tema com as teorias antropológicas, tendo parte da obra de Darcy Ribeiro como objeto de investigação.
Nesse sentido, a primeira parte deste livro analisa a atualização de alguns temas da cultura política trabalhista, durante o processo de consolidação da democracia no Brasil. A partir das relações entre memória e história, investigou-se a trajetória política de Darcy Ribeiro e o papel que esta desempenhou na apropriação e mudança de princípios do trabalhismo, possibilitando uma nova síntese política, atuante na década de 1990. A avaliação das experiências políticas de Darcy Ribeiro, desde os anos 60, revelou que tais experiências tornaram-se patrimônio desta cultura política renovada. Sua atividade parlamentar, durante os anos 90, trouxe ao debate político os temas caros ao projeto de reformas de base dos anos de 1960, quais sejam: o nacional-desenvolvimentismo, um projeto republicano, as propostas na área da educação e a reforma agrária. Desse modo, as experiências políticas dos anos de 1960 e 1990 foram comparadas, sob a luz do conceito de cultura política, objetivando demonstrar a apropriação e a mudança como conformadoras de um projeto político para o Brasil.
Já a segunda parte do livro apresenta possíveis pontos de interlocução entre uma teoria antropológica moderna e discursos sobre o desenvolvimento, tendo como resultado um projeto de Brasil. O principal ponto de interlocução destes campos são teorias acerca da mudança cultural, considerando o papel de mediadoras que desempenham ao produzir sentidos específicos para a noção de desenvolvimento. O material utilizado para tanto foi o livro O Processo Civilizatório: etapas da evolução sociocultura de Darcy Ribeiro, publicado em 1968, e que compõe os Estudos de Antropologia da Civilização, parte da obra do autor. No caso de Darcy Ribeiro, observamos que este articulou uma teoria antropológica neoevolucionista e um projeto de nação desenvolvimentista a partir do conceito de revoluções tecnológicas. Tal conceito perfaz a ideia do autor de mudança cultural, ao mesmo tempo que enseja uma crítica à teoria da dependência latino-americana, nos moldes do debate acerca do subdesenvolvimento, tal como a discussão sobre o desenvolvimento se encaminhava no debate político. A partir do conceito de revoluções tecnológicas, Darcy Ribeiro retoma o tema das dinâmicas culturais, caro às teorias da antropologia moderna, embasadas em uma perspectiva evolucionista, bem como valores do projeto nacional-desenvolvimentista defendido por políticos trabalhistas, valores este que residem na crítica à dependência econômica dos países latino-americanos e na defesa da autonomia política de nações subdesenvolvidas como caminho para o desenvolvimento, entendido como desenvolvimento social.

Não-ficção / Didáticos / Técnico / História do Brasil