De Paixões e De Vampiros

"O comitê pró-candidatura do Homem da Vassoura tinha sido instalado no primeiro andar de um sobrado da praça do Mercado, prudentemente distante do lago Titicaga ? como era conhecido o vasto reservatório de dejetos lançados pelos esgotos do beco do Cochicho, do Mercado Municipal e do Maracujá (a rua das mulheres mais baratas, as quais asseguravam às farmácias uma excelente venda de antibióticos contra gonorréia, cancro duro, cancro mole e outras condecorações que enfeitavam os bravos ? e renitentes ? aventureiros da noite."



De paixões e de vampiros: uma história do tempo da Era é a nova incursão pela prosa de Ruy Espinheira Filho, cujo mais recente livro de poesia, Elegia de agosto e outros poemas, foi, em 2006, vencedor do Prêmio da Academia Brasileira de Letras e ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti. Trata-se de um romance, na definição do autor, "mnemônico", inspirado em sua juventude vivida em cidades do interior baiano. Com humor e lirismo, Ruy narra uma história passada em 1960 ? época da última campanha presidencial antes do golpe militar. Em meio a um cenário um tanto absurdo e divertido, misturam-se os mistérios do amor e o terror do vampirismo à solta...



Para o cartunista Jaguar, "Ruy consegue fazer a coisa mais difícil que tem em literatura: escrever com simplicidade sobre essa coisa complicadíssima que é a vida. Pouquíssimos conseguiram isso. Machado de Assis, por exemplo. Ruy conta histórias, digamos assim, com uma requintada singeleza. Escreve para o leitor. (...) A maioria dos escritores que conheço escreve olhando para o próprio umbigo."



Um dos poetas mais celebrados de sua geração, Ruy Espinheira Filho prova com De paixões e de vampiros: uma história do tempo da Era que seu domínio da linguagem literária não está limitado a um só gênero. "Geralmente minha prosa mostra também certos aspectos líricos", afirma Ruy, "mas, por mais lírica que possa ser algumas vezes, não deixa de ser prosa. Enfim, é a outra face da mesma moeda: a literatura."