Na certa, você já viu muitos vídeos do tipo time-lapse, desses que mostram em poucos segundos a dança dos astros no céu, o vaivém das marés ou a gestação de um ser vivo. No entanto eu duvido que você alguma vez tenha visto um espetáculo assim se descortinar somente por meio de palavras.
Até agora.
Essa é a mágica de Dente de leão, livro de estreia da talentosa Mia Dailan. Ele contém o tempo de uma vida pronta — eu não disse acabada, mas pronta —, contém o tempo de uma vida se preparando para o que der e vier e mais: deixa que a gente vislumbre as fases necessárias e imensuráveis de tal florescimento na brevidade de uma leitura.
Nesse aspecto, Mia é didática. O livro que você tem em mãos, afinal, divide-se em três partes: Semente, Folha e Flor. Mas também as pistas se encerram aí. Como ela mesma diz, poesia é sobre “não ter medo”, “sair da passividade da vontade”, “não mais fingir que não vejo”. Conceber uma interpretação para um poema só parece uma miudeza, mas é das coisas mais complexas que há. Por isso é um ensaio — para outras complexidades da vida.
Breno Fernandes, escritor
Poemas, poesias