Na música mais célebre que compôs, a poeta e compositora feirense Georgina Erismann apresenta dois versos luminosos que sintetizam seu modo poético de descrever sua cidade natal: “Sorridente como uma criança/descuidosa da sua beleza”. Escolhi o verso “descuidosa de sua beleza” como título desta coletânea por trazer a possibilidade de comunicar acepções ambivalentes e muito afins de minha proposta ao pensar o que seria este livro que agora você tem em mãos. (Nívia Maria Vasconcellos, Organizadora)
SOBRE O LIVRO
Disse, certa vez, outro poeta: a Bahia já me deu régua e compasso. Pois, além disso, a Bahia deu a essas mulheres baianas asas para voar no céu infinito e coragem para mergulhar no mar profundo. Voar e mergulhar são desejos muito próprios das mulheres, que às vezes ficam trancados em um coração arredio, cauteloso, reprimido pelo cotidiano árduo e os deveres inadiáveis. Mas algumas se movimentam através da poesia, descuidosas que são da beleza que sopram. Essas cantam, diz Jacinta Passos, “por todas as criaturas que não sabem cantar”.
As poetas neste livro trouxeram da vida interiorana a grandeza das coisas simples e foram acolhidas em Feira de Santana, de onde lançaram suas vozes potentes, agora reunidas aqui. Que este caminho permaneça sempre aberto às mulheres que fazem da poesia o seu colóquio com o mundo. Jovina Souza, garante, em seu verso, viver “a esperança que abraça a luta”. Sim, mulheres entendem de luta e poetas, de esperança. Cada verso, cada poema, é memória e é futuro, é vida vivida e ansiada. Afinal, no dizer de Julieta Carteado, “felicidade é tudo ou nada”.
Por isso, mais que nunca, é preciso que as vozes femininas da arte e da poesia, brasileiras vindas de cada canto do nosso país, sejam ouvidas e tragam luz para os momentos de sombras e desalento. (Regina Zappa, Rio de Janeiro)
Poemas, poesias