Dindim (Coleção Identidade)

Dindim, um senhor de setenta anos e cego de um olho, desconfia que sua filha seja vítima de violência do marido. Apesar do apelido doce e da rotina aparentemente calma, Dindim busca defender a honra da filha.
A partir de memórias de seu bisavô, chamado Dindim, José Almeida Júnior procura recontar a história da família com elementos de ficção, usando a linguagem do interior do Rio Grande do Norte.

"A rotina de Dindim não se altera desde que ficou viúvo e veio, aos setenta anos, morar com a filha, o genro e os dez netos. É o primeiro da casa a se levantar – por volta das quatro horas –, tira uma caneca de água do pote, come papa de beterraba, chuchu e batatinha – feita no dia anterior – e se senta de frente para o jardim.
Na cadeira de balanço, espera impaciente por Chicola, que traz na carroça caixas de madeira da feira da Cobal. Chicola desmancha as caixas em tábuas, deixa a madeira ao alcance das mãos de Dindim e joga os restos de coentro, tomate e jerimum na calçada. Dindim não tira um cruzeiro do bolso. Quem paga ao carroceiro por semana é sua filha, Dona Toinha.
Dindim desembainha a faca, amola numa pedra gasta e começa a deslizar suavemente a lâmina na madeira. As raspas fazem pequenos voos e vão se amontoando do lado esquerdo da cadeira de balanço. No direito, o cachorro pé duro assiste a todo o procedimento à espera de afago, que raramente recebe do dono. (...)"

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