Direi Que Lembro de Você

O Exorcista revelou um novo e fantástico romancista americano, transformando-se rapidamente no livro do ano. A glória, porém, não foi fácil para William Peter Blatty. Antes da consagração como autor do romance de terror mais comentado e discutido dos últimos tempos, ele assinou vários roteiros para comédias estreladas por Danny Kaye, Gregory Peck, Shirley MacLaine, Peter Sellers (quem haveria de supor, por exemplo, que Blatty escreveu Um Tiro no Escuro em parceria com Blake Edwards?) e teve um passado atribulado por misérias e aventuras. Chegando do Líbano como imigrante, já com três filhos, os pais tiveram que aguardar ao largo do porto de Nova York, em 1920 e poucos, o fim da quarentena imposta pelo departamento de saúde. Mas, como ele mesmo diz logo nas primeiras linhas destas memórias apa-xonastes, "este livro não é triste, é um livro alegre" e o que tem de tristeza "é falso'. Na verdade trata-se de uma confissão de amor, de um documento cheio de admiração pela figura de Mrs. Blatty, a mulher que se viu abandonada em Manhattan com cinco filhos para sustentar e foi obrigada a recorrer aos expedientes mais estranhos e extravagantes para sobreviver à crise econômica da década de trinta. Tudo isso está contado com graça, muito senso de humor, numa série de incidentes cada qual mais pitoresco, preparando o terreno para o emocionante clímax dos últimos capítulos, quando o leitor atento d'O Exorcista poderá então compreender as origens do remorso do padre garras em relação à mãe morta, a explicação dos esforços para estabelecer contato com a vida de além-túmulo, e as manifestações sobrenaturais testemunhadas por alguém que luta para não sucumbir ao primeiro impulso de entusiasmo ante a descoberta.

Vocês decerto já perceberam que este livro é o complemento indispensável à leitura d'O Exorcista - tendo sido inspirado pela necessidade imperiosa de se justificar, de expurgar uma culpa e de celebrar a existência anônima de um desses "tipos inesquecíveis" — e quando largarem o volume terão a sensação de haver passado por uma experiência inédita, rara, enriquecedora, profundamente humana e comovente.

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