Discurso desde a marginalização e a barbárie

Leopoldo Zea (1912-2004) foi o pensador mais importante do México no século 20. Suas contribuições à filosofia, à antropologia e à história ultrapassam as fronteiras nacionais e fazem dele um pensador latino-americano de dimensão universal. O filósofo foi o principal representante do grupo de pensadores mexicanos "americanistas", assim chamado por abordar, com base em Ortega y Gasset, as questões da América Latina e de seu lugar na história da cultura universal. Neste volume publicamos, pela primeira vez no Brasil, dois de seus trabalhos mais representativos: Discurso desde a marginalização e a barbárie (1988) e A filosofia latino-americana como filosofia pura e simplesmente (1969). Em ambos, como em toda a sua obra, a proposta central é produzir um discurso antropofilosófico que inverta o eurocentrismo cultural que predomina nos países periféricos, "pensando" o mundo a partir de parâmetros determinados localmente. Para Zea, a visão eurocêntrica tem como corolário a interpretação das idéias ibero-americanas como uma seqüência de cópias ruins dos modelos europeus. O filósofo rompe com tal perspectiva e sustenta que a prioridade deve ser dada à relação entre as idéias ibero-americanas e a sua própria realidade. Zea investiga as condições e o conteúdo de uma filosofia mexicana e, a partir disso, latino-americana, procurando exprimir reflexivamente as criações culturais autênticas deste continente. Assim, representa uma concepção original, um pensamento latino-americano de raiz ibérica e influenciado pelo existencialismo e a filosofia cristã. É neste sentido, independentemente de qualquer corrente acadêmica, política ou ideológica, que pode e deve ser retomado num contexto como o de hoje, em que se discutem questões como globalização, fim das hegemonias culturais, redesenho de parâmetros para as relações entre os países e as culturas, multiculturalidade etc.

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