"Eu conheci o trabalho de Bruno Velosa em seu excelente livro de estreia, Aporia (Kotter, 2023), composto por três longuíssimos movimentos cheios de fúria e acidez. Se naquela primeira obra a tônica foi – conforme indicada pelo autor – a relativização dos nossos ideais apontada por Max Weber, neste novo trabalho, Dois, ela é sugerida pelo primeiro Wittgenstein e a impossibilidade da linguagem. Aqui, os movimentos em fluxo são substituídos por poemas mais curtos e pelo mal-estar do homem consciente diante de uma sociedade ao mesmo tempo tecnologicamente desenvolvida e eticamente degradada. Não há espaço para beleza ou leveza na poesia de Velosa, que nos aponta “a vida como síndrome de abstinência” e logo apresenta um “estudo para um epitáfio” em que a vida, nesses termos, é negada. A cidade também está sempre presente, como uma entidade degenerada de engrenagens brutais, que antes expele do que abriga. Ao poeta resta observar e escrever, e não furtar-se a dizer o que sente e o que vê, na esperança de que a palavra possa, afinal, trazer a mudança."
Marcelo Nunes
Literatura Brasileira / Poemas, poesias