Doze Dias é a dramática história do cotidiano de um dos momentos mais emblemáticos da Guerra Fria — o levante húngaro, uma luta que resultou na morte de 3 mil húngaros pelas ruas de Budapeste. Apesar de não ter alcançado seu objetivo, a revolução ainda é lembrada como um dos mais contundentes espasmos de civismo vistos na história contemporânea, tamanha a obstinação dos húngaros na luta contra a opressão soviética.
Victor Sebestyen, jornalista cuja família fugiu da Hungria durante o episódio, faz um relato inovador, utilizando documentos recém-liberados de Moscou, Washington e Budapeste, os diários de sua família e depoimentos de testemunhas oculares.
No livro, presenciamos os primeiros dias eletrizantes quando, armado com poucos rifles, coquetéis molotov e uma coragem desesperada, o povo de Budapeste se levantou contra os soviéticos. A retórica norte-americana sobre a libertação da Europa do comunismo encorajou os húngaros a se rebelarem, e os defensores da liberdade imaginaram que receberiam ajuda. Enquanto o Ocidente observava admirado, teve-se a impressão de que os húngaros poderiam vencer e humilhar a União Soviética. Mas os soviéticos dispunham de métodos brutais e uma tropa com mais de 500 mil homens que o Ocidente não estava disposto a impedir que fossem utilizados. Os líderes ocidentais, entre eles o presidente norte-americano Dwight Eisenhower, nada fizeram.
Com os diversos relatos apresentados em Doze Dias, fica evidente a presença da CIA neste episódio, que, através do canal de rádio Free Europe, encorajou e incentivou a insurgência dos rebeldes, com a premissa de que a intervenção americana como apoio na luta contra os soviéticos estava por vir. O que realmente se viu, ao fim das duas semanas, foi um total distanciamento do governo norte-americano, como de todo o mundo ocidental. Porém, muitos dos “guerrilheiros” curiosamente foram recrutados depois do confronto para ocuparem os quadros da CIA.
O mundo livre assistiu a tudo com sentimentos de solidariedade e horror. A Revolução de 1956 foi um fracasso heróico, e serviu como prova da impopularidade do comunismo mesmo dentro de seus domínios. A partir daí teve início o lento processo de decadência do regime.
Mais de meio século após a revolução, Victor Sebestyen afirma que ainda há marcas remanescentes do confronto, como contou em um programa de rádio da rede britânica BBC em 2006, data de aniversário de 50 anos do levante: “Ainda hoje, com uma Budapeste movimentada, uma moderna capital que recebe muitos turistas, você pode ver com calma que alguns prédios públicos e outras grandes construções ainda estão com marcas de balas.”
Na mesma gravação para a BBC, Sebestyen ainda ressalta a frágil relação que Hungria e Rússia mantêm, mesmo após tantos anos. E, segundo o autor, “por mais que os húngaros, principalmente os mais jovens, queiram esquecer este período de sua História, eles não conseguirão por completo”. Isso porque vários dos líderes políticos que comandam o país têm sua trajetória intimamente ligada à revolução, como o primeiro-ministro Ferenc Gyurcsány, que quando jovem foi ligado ao movimento comunista e se tornou um dos homens mais ricos do país após a queda do regime.
Dramático, Doze Dias ajuda a entender este evento histórico, emblema do indestrutível desejo humano pela liberdade.
História / História Geral