Fragmento do Prefácio
Ronald Augusto (poeta, músico, letrista e crítico de poesia)
"Os poemas de e se alguém o pano almejam àquela condição de cacto, de coisa áspera e intratável, e servem à maravilha como transposições verbais da célebre metáfora de Manuel Bandeira. Eliane sabe muito bem que seus poemas devem ser três vezes melhor do que qualquer poema branco escrito por seus iguais desiguais que não se ressentem de sua branquitude. Essa, por enquanto, é a regra do jogo. Do contrário restaria resignar-se murmurando a máxima de que o importante é fazer parte do coletivo, assumindo o posto menos visível, menos proeminente. Enfim, os poemas de Eliane Marques são ambiciosos. Em seus poemas há entre outras coisas: variedade de ritmos, palavras-montagem, étimos de extração de poéticas panafricanas, coragem de usar uma dicção antinaturalista, um movimento contrário à brevidade enquanto padrão médio, o aproveitamento da música da prosa, o entendimento de que o ritmo se conquista pela reiteração de elementos materiais da linguagem. E, algo que considero fundamental em qualquer artista: Eliane dissimula uma raiva contida, bem aplicada, isto é, um tipo de disposição textual capaz de conferir à forma um enviesamento mais cortante, impiedoso: o estilo da revanche.
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