Ecos do Oriente: O relato de viagem na literatura brasileira contemporânea

Ecos do Oriente: O relato de viagem na literatura brasileira contemporânea Fernanda Müller


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Ecos do Oriente: O relato de viagem na literatura brasileira contemporânea





“O homem que viajou, aprendeu muito. Muito vi no decurso de minhas viagens e o que compreendi ultrapassa o que eu poderia dizer”. Essa poderia ser uma voz tomada de empréstimo da teoria do narrador de Walter Benjamin, mas faz parte do livro do Eclesiástico, especificamente da seção que trata da experiência (Eclo 34, 9-12). É a partir desse conhecimento proporcionado pelo deslocamento espacial e das inúmeras vertentes que lhe deram expressão ao longo dos séculos que Fernanda Müller constrói o percurso teórico de Ecos do Oriente.
Para compor estes textos, a autora lança mão de algumas narrativas contemporâneas acerca de imigrantes, aqueles sujeitos marcados visceralmente por duas fronteiras: uma familiar ou natal e outra, a estrangeira. As personagens podem ser abordadas, também, por outra duplicidade: a da presença e da ausência de uma memória cultural, na forma do hibridismo ou do biculturalismo, conceitos tão evocados na atualidade.
Os ensaios debruçam-se principalmente sobre duas obras. Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, dá vazão aos conflitos de uma família de origem libanesa em busca de uma identidade pessoal e familiar, inalcançáveis tanto na capital manaura quanto fora dela. Deslocando-se, sobretudo, no eixo temporal, o sentir-se estrangeiro torna-se ainda mais problemático devido à condição de filha adotiva da narradora. Já em Amrik, de Ana Miranda, o foco recai sobre o percurso mental de uma dançarina libanesa, abstraindo o tempo e o espaço, a fim de reforçar a tensão identitária no embate das tradições orientais e dos costumes cosmopolitas da São Paulo do início do século passado.
Muito embora o estudo eleja como eixo central o relato de viagem, outros temas são convocados para aprofundar a questão do deslocamento. Assim, depois de traçar uma interessante retrospectiva do surgimento dessa forma de narrativa tradicional até o narrador contemporâneo, o leitor é conduzido a uma investigação da presença do imigrante oriental na literatura brasileira, tendo como base as obras literárias citadas.
Além disso, a autora não se exime de fazer considerações a respeito do “mundo real”, talvez a bagagem mais pesada de um trajeto que compreende o imigrante sob o penoso signo do exílio. Talvez seja por esse motivo que o discurso teórico enfrente as consequências de uma problemática cartografia: aquela na qual a compreensão do sujeito escrevente ultrapassa o que poderia ter sido escrito. Essa é a difícil viagem do pensamento ao corpo do texto que Fernanda Müller nos oferece de forma mais segura.

Marcio Markendorf

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