O livro de Rafaela Teixeira Zorzanelli, de maneira sóbria e com mão leve, consegue mergulhar no universo da Clarice Lispector para detectar ali um paradoxo: a experiência de desmanchamento e, ao mesmo tempo, através dele, do acesso a uma vitalidade superior. É o que ela chama de dessubjetivação subjetivante, numa perspectiva marcadamente deleuziana. Ao escolher o eixo da despersonalização, o livro mostra como ele abre a via para um experiência subjetiva de outra ordem. Se fosse só isso, já seria muito. Mas além desse eixo tão preciso e pertinente, chama a atenção o modo como isso foi feito, sempre a partir da obra, dos personagens, das situações, da escrita e da Clarice. Por isso, a autor consegue ir muito mais longe do que se utilizasse filosofemas deleuzianos e os chapasse sobre as citações d Clarice - e sabemos a que ponto seus textos se prestam a um tal exercício acadêmico.
Peter Pál Pelbart
Filosofia / Literatura Brasileira / Psicologia