A teologia não é propriedade de instituições religiosas, tampouco se limita a academia. Ela é e se faz na vida, na cultura, na comunidade, na trajetória de pessoas que indagam, sofrem, sentem, esperam e convivem com as "malditas questões humanas".
A literatura é um elemento importantíssimo de e para a reflexão teológica. As narrativas bíblicas, por exemplo, antes mesmo de textos sagrados, são literatura.
No oriente ma teologia em geral é vista sobre outra perspectiva. O pensamento teológico ortodoxo é místico e não se desenvolve a partir de conceitos. A principal chave de leitura é a experiência religiosa, muito embora isso não signifique uma negação de sistematização teológica.
A literatura é capaz de "incorporar a diversidade e a multiplicidade da vida". Ela constrói sentindo. A narrativa e a poesia conseguem expressar o que a lógica ou a ciência jamais conseguirão, pois transcendem o conceito. É possível, então, pensar teologia dessa forma.
Esta obra, portanto, pretende aproximar a literatura russa de Dostoievski à teologia. As obras de Dostoievski pontuam elementos teológicos importantes, que são , inclusive, correspondentes à teologia latino-americana. Embora haja a percepção da expressiva presença do trágico em Dostoievski, em que constantemente a anguústia, a culpa, o sofrimento, a fatalidade, os questionamentos inquietantes se manifestam, isto não significa a negação da possibilidade de uma construção de vida, mesmo em detrimento dessa contigência. Dostoievski lida com o trágico, mas também com o belo. É como se Deus e o Diabo travassem uma batalha no coração do homem, parafraseando o próprio Dostoievski.
É nessa direção que trilha a obra, no diálogo entre a literatura de Dostoievski e o pensamento teológico latino-americano, em especial com o pensamento teológico de Juan Luis Segundo e José Comblim. E nesse sentido não é negado o trágico, mas enfatizado no diálogo proposto a construção de vida apesar do trágico, construção essa que se dá na liberdade e no amor.