“Em Minas Gerais não acontece nada, mas o pessoal se lembra de tudo”, avisa o autor numa das crônicas deste livro. Não é brincadeira, e talvez por isso mesmo existam tantos escritores mineiros entre os grandes cronistas do país. Naquela frase, que não é só de efeito, está escondida uma das mais delicadas definições do gênero em que Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos foram mestres. O não acontecimento – o fato comezinho, a miudeza, a situação cotidiana – é a matéria-prima da crônica. Mas é a memória que, ao retirar do passado e reinventar essas pequenas histórias, dá a graça e a beleza que as transformam em arte.
Como bom mineiro, e ainda melhor cronista, Humberto Werneck lembra de tudo. Da tristeza pelo cancelamento (justificado) de uma aguardada festa de aniversário na infância à alegria de presenciar a histórica inauguração de Brasília. Nesta coletânea, Werneck ainda reúne uma galeria de tipos difíceis de esquecer: Solange, a prima que adora falar difícil; Dona Alzira, que bolou um escudo de eucatex para se defender de um tarado munido de raio laser; e Samuel, que está de novo com a conversa de que o mundo vai acabar.
Humberto Werneck é um contador de histórias como poucos. Ele narra com o ritmo preciso e o humor refinado que o tornaram conhecido como um dos melhores textos do jornalismo brasileiro. Como cronista, alia a capacidade de observação ao talento com as palavras. O resultado, que pode ser conferido nas 44 crônicas deste livro, é uma conversa que revela a humanidade dos personagens e do próprio autor.
Crônicas / Literatura Brasileira