FAZENDAS DE CAFÉ DO VALE DO PARAÍBA: O QUE OS INVENTÁRIOS REVELAM

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FAZENDAS DE CAFÉ DO VALE DO PARAÍBA: O QUE OS INVENTÁRIOS REVELAM





Um retrato do imperador com moldura rica; clavinotes; bacamartes; trabucos; porcelanas; máquinas para socar e beneficiar café; senzalas para escravos casados e senzalas para escravos solteiros. Estes são apenas alguns dos bens listados nos inventários dos senhores do café da região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. Coletados em uma extensa pesquisa, eles foram organizados no livro “Fazendas de Café do Vale do Paraíba: O Que os Inventários Revelam”, publicado pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo por meio da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico e do Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado.

O livro é resultado de uma extensa pesquisa, empreendida por Carlos Eugênio Marcondes de Moura, nos anos 1974/1975, quando foram registrados 190 inventários de propriedades rurais localizadas no Vale do Paraíba, nos anos de 1817 a 1915. Na época, o pesquisador foi incumbido pela presidência do Condephaat de realizar o levantamento de uma ampla documentação, arquivada em cartórios regionais, relativa aos inventários dos proprietários das fazendas de café da região, que se estende dos atuais municípios de Bananal a Roseira, no Vale do Paraíba paulista.

O material coletado esteve, durante as últimas décadas, sob a guarda dos técnicos e pesquisadores do Condephaat e foi sintetizado para a publicação, com itens e informações selecionadas e organizadas pelo pesquisador. O livro constitui-se também de uma importante fonte documental, pois reúne informações que estavam arquivadas em cartórios do interior do estado. Ainda segundo o autor, no momento em que a pesquisa foi realizada, a documentação estava armazenada, muitas vezes, em ambientes inadequados para sua preservação, sujeita, portanto, à degradação. Desta forma, a publicação dos inventários em forma de livro é também um meio de preservar a memória e a história do café em São Paulo.

Segundo a presidente do Condephaat Ana Lúcia Duarte Lanna, o material disponibilizado na publicação agrega uma multiplicidade de significados do Vale do Paraíba e insere seus bens naturais, arquitetônicos e históricos num largo leque de representações sobre a história paulista. “Os inventários coletados permitem compreender muitas das características da economia cafeeira na região e revelam uma diversidade que a denominação genérica de produção cafeeira acaba por ocultar. O material também nos informa que nem tudo era café na região estudada. São inventários que sinalizam o complexo quadro de propriedades, atividades e situações sociais amalgamadas no espaço e tempo Vale Paraibano”, diz Ana Lanna.

“Exemplos dramáticos da desvalorização e decadência das propriedades agrícolas da região pesquisada, pouco antes da Abolição e no início do século 20, se mostram nos inventários da Fazenda da Divisa (Bananal, 1886), da Fazenda das Palmeiras (Queluz, 1888), da Fazenda do Salto (Queluz, 1896), da Fazenda Orisaba (Areias, 1903), da Fazenda Santo Antonio (Lavrinhas, 1903) e da Fazenda Santa Cruz (Areias, 1909)”, revela o pesquisador.

Entre as muitas histórias, um dos inventariados, o padre João Graciano de Faria (Fazenda da Cachoeira, freguesia do Sapé, Silveiras, inventário de 1869) deixou livres 45 escravos e legou-lhes, durante suas vidas, o usufruto da fazenda que comprou naquela freguesia a José Joaquim Moreira Lima, de Lorena. Em seu testamento, dispôs que por morte do último dos escravos a fazenda passaria a pertencer a Nossa Senhora da Piedade, padroeira da freguesia. Os escravos que ficaram cativos deveriam servir seus herdeiros, não poderiam ser vendidos, hipotecados ou dados por dívidas e ficariam livres após a morte dos mencionados herdeiros.

Outro exemplo contado no livro, também ano de 1869, é do inventário de Maria de Jesus Freitas, de Bananal, proprietária da Fazenda Serra do Perapetinga. Ela alforriou em testamento “todos os escravos e escravas, pretos e pretas, pardos e pardas, sem exceção alguma, e todos os seus filhos atuais e os que ainda possão vir a ter enquanto a testadora fôr viva”. A esses escravos ela deixou 19 alqueires de terras.

Enquanto alguns senhores de café deixaram em testamento instruções de alforria para escravos e até alguns bens, inclusive com reconhecimento de paternidade para filhos que tiveram com escravas, outros inventários revelam entre bens relacionados alguns instrumentos de tortura, tais como: algemas de ferro com cadeado, troncos, ganchos para pescoço (libambos). É a história do Brasil em seus múltiplos olhares.

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