A poesia de Bruno Molinero é urbana, cerebral, cruel, direta e antilírica; em resumo, paulistana. Repetindo o impacto de seu livro de estreia, o premiado Alarido, neste Férias na Disney encontramos o autor mais reflexivo (reluto em dizer maduro, já surgiu pronto), mais preciso no cinzel com que fere a susceptibilidade do leitor. Livro distópico, o eu-lírico (eu falei em antilírica alhures?) é bombardeado pelos estranhamentos que causa ao ser dotado de sensibilidade viver em meio à comédia de costumes da classe média brasileira, notadamente a paulistana, seu mais mal acabado exemplar. O sarcasmo, a denúncia da falta de humanidade, o horror que permeia os poemas nos levam a refletir sobre o labirinto de Creta em que a sociedade brasileira se encontra, levada pela estultice de sua camada ascendente inculta, presa a valores inócuos de um capitalismo de que não chegou a usufruir. E que não se dá conta de que já abraçou há muito o minotauro do fascismo, embora julgue viver um conto de fadas. (Manoel Herzog)
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