Flor de Sal

Mell Renault é dona de uma poética muito pessoal, muito própria. [...] Estamos diante de uma poeta que tem luz própria e encontrou a sua própria voz. Sua poética vem do rés do chão, mas também abarca o intangível. [...] Neste livro, Mell Renault (de)marca seu território na poesia contemporânea com seu estilo inconfundível: as palavras gotejam ao longo das páginas como goteiras da calha, como pingos de prata das folhas, como quedas de cachoeiras, como uma enxurrada; transbordantes palavras. [...] Há uma musicalidade latente nos versos quebrados pelos vocábulos impressos como escadas poéticas ao longo das laudas, do chão ao teto, do maroceano ao céu. Os versos seguem se apresentando em sua verticalidade numa cadência natural. [...] A poesia límpida, nítida, etérea e chã da poeta é de um equilíbrio pouco visto nas nossas letras. Sua subjetividade e/ou espiritualidade, se apresenta em toda a sua plenitude sem forçação de barra, sem cair no esotérico. À cata de palavras da natureza recorrentes em sua poesia, o leitor se sente tomado pelo universo pictórico/imagético de Mell Renault. É como se esse canto e esse mar levassem a nossa poeta lírica às eras homéricas. Os marinheiros medrosos [de primeira viagem?] tapam os ouvidos com cera para não sucumbirem ao canto das sereias aladas. Já Odisseu ordena que o amarrem no mastro de maneira que não perca a vida e tampouco o prazer do canto. Ouso dizer que é assim que eu vejo, ouço e sinto a poesia de Mell Renault. [Por Andri Carvão]

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