“Tempos atrás me deparei com a existência do livro Historia de la monja alférez e fiquei me perguntando como é que uma obra importantíssima dessas ainda não havia sido traduzida para o português. Escrita em 1626, mas publicada pela primeira vez apenas em 1829, temos aqui a autobiografia de um indivíduo que, criado para ser mulher e metido num convento desde criança, escapa desse destino e, vestindo roupas masculinas, embarca rumo às Américas, onde entrará para a vida militar. Vive como homem por algum tempo, até ser descoberto o fato de que ele, segundo os paradigmas de gênero da época, deveria ser, na verdade, uma mulher. Tal expectativa, no entanto, nunca se concretizou e tão forte era a impressão que ele causava que obteve autorização do próprio Papa Urbano VIII para prosseguir vivendo sua vida en hábito de hombre (“em trajes de homem”)! Tudo registrado numa obra absurdamente autobiográfica, com o autor tratando-se desde o princípio no masculino e nos mostrando que as reivindicações que hoje denominamos trans não são tão recentes quanto se imagina. E essa tradução, para além de tornar conhecido do público brasileiro um texto tão precioso, ainda é inovadora por ser uma das poucas edições a respeitar o gênero do autor e o nome com que ele viveu até o fim de seus dias (foram vários os nomes masculinos pelos quais ele foi conhecido).” Amara Moira (texto de apresentação).
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