Freud & Nietzsche

Freud & Nietzsche Paul-Laurent Assoun

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Freud & Nietzsche


Semelhanças e dessemelhanças




Embora a conjunção Freud e Noetzsche tenha sido percebida há muito tempo - desde a própria origem da psicanálise, quando as ressonâncias entre uma e outra obra se fizeram escutar - as relações mantidas entre ambos não passaram de simples intuições, suspeitas e análises parciais. Paul-Laurent Assoun examina neste livro o conteúdo e o sentido das afinidades, os ecos, os vasos comunicantes que entrelaçam as vidas e as obras de Nietzsche e Freud. Em primeira instância o autor recorre à contemporaneidade histórica dos personagens, o que lhe permite relacionar estes dois nomes e respectivos pensamento - desde as reflexões sobre Nietzsche efetuadas nas famosas quartas-feiras na Sociedade Psicanalítica de Viena, até a amizade que ambos mantiveram com Lou-Andreas Salomé. O caminho que leva Assoun de Freud a Nietzsche e vice-versa conclui com a descoberta dessas afinidades entre os dois pensadores, entre a genealogia da moral e a arqueologia do inconsciente, entre as revoluções neocopernianas propugnadas por eles e entre seus dois discursos colocados frente a frente que, apesar de seus diferentes códigos e suas vhaves distintas, recorrem às mesmas zonas de linguagem, determinando formas, radicais a seu modo, de subversão. Mais do que a simples sedução exercida por esta analogia, o projeto proposto por Assoun pretende tornar explícito o tema ‘nietzsche-freudiano’ sem cair na imprecisão das sugestões nem ceder ao artificialismo das semelhanças retóricas.


"A versão intelectualmente dominante da psicanálise contemporânea decretou a pornografia da vida. Se o inconsciente é ‘estruturado como linguagem’, só interessará ao saber psicanalítico o que pode ser organizado sob forma sistemática. E será preciso ignorar o que é múltiplo, que se coloca como diversidade.

Abandono dos afetos, recusa dos concretos das vivências: eles só existiriam desde sua transformação em significantes. Significantes achatados e sem intensidade, organizados sob a forma de matemas, que só têm valor enquanto postos em sistema. E o sistema só valendo desde que seja enunciado por um discurso adequado e centralizador. Para isto, psicanalistas e analisandos que se inscrevem nesta ordem discursiva terão que se submeter à dessubjetivação, afastando a espessura da vida e colocando como meta o impossível: o vazio, a Palavra que ainda não foi dita.

Freud recusou-se colocar a Psicanálise em sistema. Isto nunca o impediu de pesquisar aquilo que sistematizaria o inconsciente: na sua primeira Tópica, pensou o sistema inconsciente enquanto algo substantivado. Depois de 1923 (O Eu e o isto), afirma um ‘isto’ inconsciente, que não tem características exatas (isto é, que se possam colocar em sistema), mas rigorosas. E também, a partir da postulação do ‘isto’ será impossível sustentar o psiquismo apoiado nas pulsões de auto-conservação.

Se as pulsões passam a ser pensadas como manifestação plurais, o psiquismo não pode se assujeitar a uma economia restritiva do pensamento. Aprenderemos com Freud a necessidade de restabelecer o delicado equilíbrio entre o pensamento e a vida, tema importante em Nietzsche (por exemplo, A Gaia Ciência). A aposta na teoria psicanalítica tem que respeitar as pulsões e sua expansão e produção permanentes.

Não há em Freud um Real inalcançável como alvo fálico, pois o isto sempre é alguma coisa. Quando se o toma, é produto diferencial das pulsões e dos sistemas organizados que experimentam capturá-lo. O ‘isto’ se deixa organizar sistematicamente (pelas três Urphantasien: sedução, cena primária, castração), mas esta organização não é nem permanente, nem universal (é isto que se aprende, incisivamente, com Psicologia das massas e Análises do Eu).

Porém, na medida em que nós psicanalistas nos colocamos enquanto agentes de mudanças (oferecendo transformações para quem escutamos, pois escutamos alguém que deseja mudar), trabalhamos com um saber restringente, que não pode aceitar inteiramente todas as expressões pulsionais; que precisa, por isto mesmo, colocar-se sob a forma isntitucional. As expressões da ordem psicanalítica regem-se sob um contrato - que perpassa a análise individual, fundando-se desde a teoria até a pertinência institucional - que sempre estabelece possibilidades e limites: a vida terá condições especiais de dialogar com a inteligência.

Na Psicanálise, o sofrimento procura formas de apaziguamento, e a loucura (convertida em ‘psicose’) terá que estabelecer modos de conversar com produções psíquicas incontroláveis. É necessário, mas não suficiente para a Psicanálise caracterizar o sofrimento e loucura como formas positivas de expressão. Sem exceção, as psicanálises se produzem sempre com algum conceito de cura.

Dado isto, como compatibilizar a obra freudiana com a de Nietzsche? Acho que para o leitor freudiano de Nietzsche esta é a questão mais importante.”
Primeira parte: Freud e Nietzsche - Gênese de um encontro, Nietzsche no discurso freudiano

Segunda parte: Nietzsche e Freud

Livro primeiro: Os fundamentos: Instinto e pulsão, Psicologia nietzschiana e psicanálise freudiana, Princípios pulsionais

Livro segundo: Amor e sexualidade, Inconsciente e conciência, o sonho e o simbolismo

Livro terceiro: Neurose e moralidade, Cultura e civilização, A terapêutica

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on 26/2/22


Livro absolutamente grandioso, só não vou dar 5 estrelas porque vou reservar isso quando tiver as obras de Nietzsche e Freud passadas completamente a limpo e eu o reler. É um trabalho de pesquisa e coesão de pensamentos muito bem delineado, certamente também estou pronta para ler outros livros do Assoun como Freud A Filosofia e os Filósofos e Freud e Wittgenstein. ... leia mais

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Fernanda
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01/04/2012 09:49:52

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