É uma linguagem moderna, sofisticada, que recicla em alto estilo a ficção pampeira, toda ela, não apenas a brasileira; um livro com raízes em seu próprio solo - enfim uma das condições do universal na literatura. Não há como não lembrar a riqueza lingüística e as façanhas de Martin Fierro, Don Segundo Sombra, Sobre Heroes y Tumbas, os contos de Simões Lopes Neto e O Tempo e o Vento.
Enfim, um romance maior, uma crônica surreal - meio eficiente, quando bem usado como aqui, de captar uma situação absurda não para obter afetados efeitos literários, mas, ao contrária, chegar a um realismo maior- de nossa história recente, da brutalidade da ditadura e dos mártires que nela se imolaram. E perpassando tudo, símbolo dialético maior, em contraponto, a mítica figura quixotesca de Dom Benito, que esteve em todas as guerras, todas as revoluções, todas as peleas da fronteira, e atravessa a obra como a encarnação do gaúcho lendário, atemporal. Um grande feito, um grande escritor.
Marcos Santarrita