Publicado em 1846, quando Dostoievski tinha apenas 25 anos, Gente Pobre foi saudado entusiasticamente pelo influente critico Vassilión Bielínski, que vaticinou o surgimento de um gigante da literatura, comparável a Gógol e Pushkin, considerados os maiores escritores da Rússia.
"Você compreende o que escreveu? Consegue abarcar(...) toda a terrível verdade que nos mostra? Só com esse seu instinto direto, só como artista, pode ter escrito isto. (...) Você chegou aqui ao cerne do assunto! (...) Tal é o segredo da arte, tal é a verdade da arte! Aqui está o artista a serviço da verdade! A você, artista que é, a verdade tem se revelado; veio ao mundo com esse dom; valorize-o devidamente, seja-lhe fiel, e será um grande artista!", disse Bielínski a Dostoievski, depois de ter lido os originais do romance.
O critico tinha razão. Não se tratava de apenas mais um livro de estreia, nem Dostoievski era só mais um escritor. Recebido como "a primeira tentativa de se fazer um romance social" no país dos czares, Gente Pobre é na verdade algo maior. Pois Dostoievski não se contenta em descrever o ambiente de um dos bairros miseráveis de São Petersburgo - onde um funcionário público de meia-idade e a sua jovem vizinha costureira, demasiado pobres para se casarem, encontram na troca de cartas a maneira de compartilharem os pequenos acontecimentos de suas vidas miseráveis. Além disso, realiza a incisiva e subterrânea sondagem psicológica da humanidade 'ofendida e humilhada' que se observa em todos os seus romances, e que levou o pai da psicanálise, Sigmund Freud, a considerar Os Irmãos Karamazov (1879) a "maior obra da história".
Ficção / Literatura Estrangeira