Os textos de Jacques Derrida apresentam um encadeamento conceitual dos mais curiosos: uma vez apresentado e definido o termo, o autor volta a usá-lo em outros lugares (em outros livros) com uma sem-cerimônia absoluta. Isto é, emprega o termo de novo sem tomar as devidas precauções de clareza que ajudariam — e muito — um leitor principiante.
Tendo, portanto, perdido o momento da inscrição e definição de um termo, o leitor ficará literalmente no ar diante desse vocabulário que lhe parecerá (então) hermético, muito além do seu conhecimento e argúcia. Tal dificuldade se soma ao fato de que a construção da frase de Derrida não é sempre a mais cartesiana, embora sua sintaxe tenha a lógica do impecável que, em prosa francesa, era antes único privilégio de Mallarmé. Por fim, diga-se que o gesto básico dos textos de Derrida articula um agressivo questionamento dos pressupostos históricos sobre que se apoia o discurso da metafísica ocidental. Tal gesto se traduz por uma constante violência contra a interpretação clássica de certos livros, contra o uso indiscriminado de certos conceitos e sobretudo contra a "ingenuidade" filosófica da maioria dos chamados autores "estruturalistas". Frente, portanto, a um léxico de significado flutuante, a uma sintaxe de fatura barroca e a um pensamento iconoclasta, quem abre La dissémination desiste muitas vezes de sua leitura na terceira ou quarta página. Tal problema vinha dando o tom e sendo o lugar-comum dos comentários de corredor e de esquina sobre a obra de Jacques Derrida. Tal problema ainda o encontraríamos como primeira e ameaçadora barreira quando iniciamos nossas aulas sobre "interpretação" (segundo alguns teóricos franceses), num seminário de pós-graduação do Departamento de Letras e Artes (PUC/RJ).
Assim sendo, resolvemos optar por uma estratégia de leitura e compreensão do texto cujos frutos agora entregamos ao leitor. A estratégia se desdobra em três fases. Nestas, o trabalho de ler e anotar, de reler as anotações e escrever, se deu em um único e coletivo gesto: este glossário. Produto, pois,de uma leitura exaustiva de certos textos, é ele confiado ao leitor principiante para que o possa auxiliar nos primeiros passos do labirinto da différance.
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