Gomeia João

Personagens como João Alves Torres Filho, Joãozinho da Gomeia, são muitas vezes esquecidos na história cultural brasileira. Isto porque existe uma tradição repressiva que neutraliza os feitos destes heróis populares.
Joãozinho não foi apenas o pai de santo brilhante, mas um vigoroso líder popular, que, através de suas artes religiosas, atraia a atenção das camadas populares, classe média e burguesia para a periferia de Duque de Caxias, onde reinou como um deus africano por quase quatro décadas.
Migrando de Salvador, onde já se destacava como talentoso pai de santo, Joãozinho, instalou, em 1946, uma sucursal de seu terreiro, no antigo bairro Independência, a periferia de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, após duas tentativas frustradas de se fixar no Rio de Janeiro.
Dali em diante, seu método religioso invadiu a mente/coração dos pobres e atraiu os ricos para sua casa. Acabou se tornando o Rei do Candomblé segundo a mídia da época, que não resistia aos seus encantos.
Nesta obra, Carlos Nobre mostra que Joãozinho é o primeiro religioso afro a lidar positivamente com a mídia. Suas festas em homenagens aos Orixás eram cobertas pela mídia fluminense retirando o candomblé de seu lado mais obscuro. O Brasil começa a conhecer a complexa religião afro pelas mãos de Joãozinho. Também é acusado de quebrar regras do culto pelos outros sacerdotes. Outra leitura fundamental nesta obra é que Nobre revela que a trajetória do pai de santo é pontuada por uma série de conflitos políticos e religiosos. Além de redescobrir vários aspectos da personalidade do famoso pai de santo, Nobre faz ótimas contextualizações da época, das cidades e do tempo vivido por Joãozinho.

Religião e Espiritualidade