Rita transita pelas fronteiras e linhas imaginárias da subjetividade alheia, expondo, generosa e visceral, seu sistema perceptivo e sensorial até às últimas consequências na relação com a linguagem escrita. Para ela, escrever é uma necessidade fisiológica, tão vital quanto seria a difícil tarefa de manter-se respirando na condição de náufraga em mar aberto.
Em seus textos, deriva, delira, convulsiona e escapa com maestria dos jogos óbvios com os verbos, rompendo com conjugações previsíveis. Autora de calibre incomensurável, traz o “fora” para dentro e, de modo singular, invejável, absurdo, realiza alquimias a partir do contato com o nonsense com o qual constantemente se depara. Rita não teme dialogar com os demônios da sordidez humana e sabe arrancar deles suas mais surpreendentes elocubrações.
Dona de uma capacidade ímpar de construir cenários surreais, tece arenas e quimeras, arquitetando sentimentos e solilóquios que não param de jorrar de suas múltiplas e impactantes vozes poéticas. Ora brutal, cruel, provocativa, sangrando no ringue com punhos cerrados; ora frágil, delicada... Impreterivelmente sedutora e em carne viva, Rita sempre corta a pele invisível das couraças que fingem nos proteger das síncopes e choques da vida, do mundo. O multiverso poético de Rita é um campo minado, movediço, feito de vidro, arame farpado, repleto de cadafalsos enfeitados por espinhos e pétalas de rosas.
Medusa, com sua verve indomável, hermana-se com os chacais que nos rituais iniciáticos guardam os portais dos umbrais de novas experiências e, talvez por isso, goze de livre passagem entre o magma poético e a ilusão insossa de realidade onde estamos todos trancafiados.
Rita, autodeclarada aprendiz do inflamável, é uma parteira dadaísta a embaralhar signos e símbolos nas portas da percepção, exibindo sua habilidade em superar a lógica dos dodecassílabos. Neste precioso livro podemos experimentar o impacto de sua munição e farejar um fôlego, que mesmo de fumante compulsiva, aposto ser capaz de atravessar gerações.
Paloma Klisys
Poemas, poesias