"Eu conheci a poesia de Fernanda Spinelli em seu livro de estreia, o excelente Síntese de passageiro. Estava ali uma poeta madura, uma alma velha em um corpo jovem – e todos sabemos que o poema não começa no momento em que se deita a pena, mas antes, muito antes (em vidas passadas, talvez, ou mesmo no éon).
Ela volta agora com este Imago, e vemos uma autora um pouco diferente, que abraçou os versos livres, mas que manteve uma coisa igual: a sensibilidade metafísica - o âmago da poesia, podemos dizer. Quando ela diz que “só dormimos enquanto vivemos”, ela ecoa a tanatologia dos filósofos: para Sócrates e Schopenhauer, o homem é um autômato, não tem consciência de si, e só a terá ao morrer; para Montaigne, é preciso pensar na morte o tempo todo; para Kant e Heidegger, só tendo consciência da própria finitude o homem tem a chance de despertar.
A poesia de Fernanda possui também uma cosmogonia, pois ao falar do aqui e do agora, ela também descortina o que há acima e além. Ela mira o humano e fala de estrelas, ou contempla as estrelas e define o humano. Ezra Pound dizia que a poesia nem literatura é – mas o que ela seria? Ler os poemas de Fernanda Spinelli é mergulhar nesse mistério e nesse deslumbramento, ao mesmo tempo espelho e firmamento."
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